Com o lema “o Brasil voltou”, o presidente Michel Temer desembarcou nesta terça-feira, 23, à Suíça, onde participa a partir desta quarta-feira, 24, do Fórum Econômico Mundial de Davos. Se sua agenda é a de mostrar que o crescimento da economia foi retomado e sinalizar passos concretos no que se refere às reformas e privatizações, ela coincide com o julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aguardado por empresários e líderes internacionais para traçar o cenário do Brasil em 2018.
Temer chegou pouco antes das 15h do horário europeu em Zurique (12h horário de Brasília) e passa o dia na cidade suíça. Apenas na quarta-feira pela manhã é que ele toma o caminho de Davos, num trajeto de cerca de duas horas. Lá, permanecerá durante todo o dia e ainda será o convidado de honra de um jantar oferecido pelos organizadores do evento com alguns dos principais CEOs de multinacionais.
Se por anos Lula foi um dos principais protagonistas de Davos e usado pelo Fórum como uma “ponte” entre a elite mundial e os movimentos sociais, o Brasil teve uma atuação apagada no evento desde 2014. O espaço acabou sendo ocupado pela Argentina, México e Chile.
Agora, Temer volta à estação de esqui para ser o primeiro presidente brasileiro em quatro anos a ser confrontado pelos empresários. A comitiva brasileira, uma das maiores em anos, ainda conta com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, Moreira Franco, o CEO da Petrobras, Pedro Parente, o ministro de Minas e Energia, Fernando Bezerra Coelho, e o presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior.
Grande parte da agenda irá tratar da captação de investimentos, principalmente para o setor de energia, além de indicar as próximas etapas das reformas.
A Agência de Promoção de Exportações também realiza um evento, enquanto os ministros repartiram funções para proliferar encontros com empresários. “Vamos nos mostrar mais proativos”, disse Maggi, que terá a função de desfazer “lendas urbanas” sobre o desmatamento no Brasil.
Temer ainda ocupará um quarto de um hotel em Davos para, durante a tarde de quarta, receber empresários, líderes internacionais e conceder entrevistas para meios estrangeiros. Até a tarde de hoje, porém, o Palácio não divulgava o nome dos presidentes estrangeiros que estariam com Temer.
Incógnita
Entre os organizadores, porém, não se esconde o fato de que tão importante quanto ouvir a mensagem de Temer nesta quarta será saber o que ocorrerá em Porto Alegre, distante 10,5 mil quilômetros de distância de Davos.
Em declarações ao jornal O Estado de S. Paulo, o presidente do Fórum, Borge Brende, insistiu na semana passada que o empresariado internacional aposta no fato de que 2018 será um ano de recuperação para a economia brasileira. Mas ele também admitiu que o julgamento de Lula é “uma incógnita”. Sua avaliação é a mesma traçada por diversos outros organizadores consultados pelo Estado.
Davos, porém, deixa claro que colocou o palco para que as autoridades brasileiras possam dar suas versões do que ocorre no País. Numa delas, Temer, empresários e banqueiros falarão sobre a tarefa de “moldar a nova narrativa do Brasil”.
Organizadores do evento admitiam que sabiam da coincidência das datas. Mas, não por acaso, o principal discurso de Temer em Davos ocorre na manhã desta quarta-feira, quando o processo de Lula no Brasil nem mesmo terá sido iniciado.
Quem também admite a incerteza é James Zhan, diretor do Departamento de Investimentos da Conferência da ONU para Comércio e Desenvolvimento. Segundo ele, é ainda “difícil dizer” se os acontecimentos políticos no Brasil terão um impacto na recuperação da economia, prevista para 2018.
Outro que estará em Davos e aponta para as incertezas políticas do Brasil é o diretor-geral da OIT, Guy Ryder. “O Brasil tem desafios como a reforma trabalhista e questões políticas. As incertezas que rondam essas questões podem gerar um impacto na recuperação do País. Queremos um Brasil forte”, disse.