O último leilão de energia elétrica do governo Lula seguiu a tendência das últimas disputas e deixou o mercado boquiaberto. O preço oferecido pelo grupo vencedor para levar a Hidrelétrica de Teles Pires, no Mato Grosso, é o menor desde que o novo modelo elétrico foi adotado, em 2004: R$ 58,35 o megawatt hora (MWh), com deságio de 32,9%.

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As usinas do Rio Madeira e de Belo Monte já haviam apresentado preços extremamente baixos. A Hidrelétrica de Santo Antônio foi arrematada por R$ 78,87 o MWh; Jirau, R$ 71,4; e Belo Monte, R$ 77,97. Todas elas foram arrematadas por parcerias entre empresas públicas e privadas. No caso de Teles Pires, cuja capacidade instalada é de 1.820 MW, o consórcio vencedor é formado pelas empresas privadas Neoenergia (50,1%) e Odebrecht (0,9%) e as estatais Furnas (24,5%) e Eletrosul (24,5%).

“O valor do MWh da usina é o mais barato entre todos os empreendimentos hidrelétricos já negociados nos leilões de energia nova”, afirma o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim. Ao lado do diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Nelson Hubner, e do presidente da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), Antônio Carlos Fraga Machado, ele comemorou o resultado e o encerramento deste ciclo. “Neste ano, foram contratados 17.050 MW de energia renovável.” Durante todo o governo Lula, foram comprados 57 mil MW, sendo 70% desse montante de energia renovável.

O entusiasmo de Tolmasquim, no entanto, não comoveu os analistas e especialistas do setor elétrico. “Para mim, esse preço é o mais alto da história, pois vai provocar prejuízos no futuro. Estamos afastando o investidor privado do setor elétrico e deixando tudo para as estatais, que têm limite de investimentos”, afirma o analista da Ativa Corretora, Ricardo Corrêa. Pelos cálculos dele, com o valor aceito pela usina, o retorno do investimento – de R$ 3,3 bilhões – deve ficar em torno de 6%. “É muito baixo. Com base nos últimos leilões, esperava algo em torno de 9%.”

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O diretor executivo da Andrade & Canelas, Silvio Areco, também se surpreendeu com o preço da disputa. “É um sinal de preço distorcido e irreal.” Na avaliação dele, a explicação para os valores apresentados está no apetite da Neoenergia, controlada pela espanhola Iberdrola e pelo fundo de pensão Previ, em crescer no Brasil. “A empresa tem dinheiro em caixa. Não precisa se endividar para investir.” Além disso, completa ele, a empresa está associada a duas estatais que podem ser agressivas em termos de rentabilidade.

Além de Teles Pires, o leilão negociou energia da Hidrelétrica Santo Antônio do Jari, no Amapá, de 300 MW. O preço ficou em R$ 104 o MWh. Duas outras usinas – Estreito Parnaíba (56 MW) e Cachoeira (63 MW) – não tiveram propostas de investidores. No total, o leilão negociou R$ 17,13 bilhões em contratos de 30 anos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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