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Telefonia celular: mercado aposta |
Rio (AG) – Sete anos após a venda pulverizada da Telebrás, alguns poucos grupos de telefonia dominam o mercado nacional. Mas o movimento ainda não acabou. Esses gigantes ensaiam nova rodada de fusões e aquisições de causar inveja a qualquer leilão de privatização. Na telefonia fixa, o movimento passa pela solução do conflito na Brasil Telecom (BrT) e até pela venda da Telemar, dizem analistas. No serviço de voz a consumidores residenciais, nunca houve mesmo concorrência de verdade, e o usuário não deve ter surpresas em termos de tarifas. O mercado aposta ainda na saída de uma das quatro grandes operadoras de celular – e enquanto isso não acontece a guerra de preços deve continuar.
As apostas, as empresas não comentam, em um mercado onde o segredo é fundamental. Por trás de toda essa onda está a tendência global de oferecer pacotes completos ao consumidor: telefonia fixa de voz em casa e no escritório, telefonia celular, DDD, DDI, transmissão de dados e acesso à internet. Ganha força, por exemplo, a telefonia de voz por internet, com preços muito menores.
A questão mais iminente é a da BrT. A Telecom Italia, que quer integrar sua TIM nacional com telefonia fixa e internet, saiu na frente na disputa pelo controle total da BrT ao fazer um acordo com um inimigo histórico: o Opportunity aceitou vender sua parte aos italianos. Parece simples, mas não é. Os outros dois sócios – fundos de pensão e Citigroup – até querem vender, mas contestam o acerto na Justiça, pois querem mais explicações.
"Os italianos querem o controle total. Os fundos e o Citi querem desinvestir. No médio prazo isso deve se resolver", acredita a analista de telecomunicações Luciana Leocadio, do BES Securities.
O problema é que a Telecom Italia luta contra o tempo. Ela tem até 18 de julho para resolver suas pendências. A empresa é acionista das celulares TIM e Brasil Telecom GSM, ambas com operações em áreas comuns, o que não é permitido por lei. Se até o fim do prazo os italianos já dominarem a BrT, poderão devolver as licenças sobrepostas.
A BrT esteve na mira de pelo menos outros dois grupos: Telemar e Portugal Telecom (PT). Segundo fontes do mercado, já estaria sacramentado um acerto entre os ibéricos: a PT venderia para a Telefônica os 50% que tem na Vivo. Com isso, a Telefônica poderia integrar a Telesp, operadora de telefonia fixa de São Paulo, com a Vivo, que ganhou porte nacional aglutinando operadoras. Mas o que se comenta no mercado é que os portugueses só deixariam a Vivo se estivessem com outra aquisição engatilhada – por exemplo, da Telemar, que atua em 16 estados, incluindo o Rio.
Alguns grandes operadores já deixaram o Brasil. Foi o caso da americana MCI, que vendeu a Embratel para a Telmex, da BellSouth e da Bell Canada. Ainda há alguns ativos menores que podem causar marolas. Um deles é a GVT, que explora a Grande São Paulo, o Centro-Oeste, o Sul e alguns estados do Norte e é considerada uma empresa enxuta. A Telefônica estaria interessada, assim como a Telmex, do empresário mexicano Carlos Slim, que além da Embratel tem a Claro e a Vésper.
A Intelig, empresa-espelho da Embratel, foi posta à venda por seus acionistas estrangeiros, mas já chamou mais atenção. Por um preço módico, ainda pode ser uma opção, porque o código 23 é uma marca forte em longa distância.
Comunicação móvel vive verdadeira guerra
Num mercado dominado por Vivo, TIM, Claro e Oi, duas operadoras de celular estão isoladas no mapa: Telemig Celular e Amazônia Celular, ambas do Opportunity, dos fundos de pensão e do Citigroup. Vendidas elas serão, não há surpresa nisso. Mas dez entre dez especialistas apostam também que uma das quatro gigantes desaparecerá.
Se na telefonia fixa – linha em casa para falar com amigos e parentes, no sentido mais básico que o consumidor conhece – a concorrência não veio, por ser impossível replicar a estrutura de uma Telemar ou de uma Telesp; na telefonia celular o mercado vive uma guerra. O resultado são estragos nos balanços financeiros das operadoras.
Difícil é acertar qual das quatro grandes sairia. Especialistas arriscam alguns cenários. Se a Telecom Italia não conseguir controlar toda a Brasil Telecom, fica em situação complicada diante das companhias com operações fixas e móveis integradas. Se a Telemar for comprada por um dos grupos que já estão no Brasil, isso eliminaria a Oi. Mas se a Vodafone levar a Telemar, poderá fortalecer a Oi.
As celulares Telemig e Amazônia têm dois grandes interessados: a Claro – que acaba de perder o segundo lugar nacional para a TIM e fortaleceria sua posição – e a líder Vivo. As duas chegaram a negociar a compra da Telemig Celular e da Amazônia Celular.
Opportunity, fundos de pensão e Citigroup discutiram entre si durante seis meses a venda. O Opportunity diz que, no fim de janeiro, foi surpreendido pelos fundos, que teriam avisado que só concluiriam a negociação se o banco desistisse de brigar na Justiça pela gestão dos ativos da Previ e de outras fundações em telefonia. Uma fonte ligada à Previ nega, e afirma que as conversas foram sempre informais. O fato é que tudo ficou emperrado depois que o Citigroup rompeu com o Opportunity. No pacote, também poderia ser incluído um descruzamento de participações: Opportunity sairia da Telemar e os fundos, da Brasil Telecom.
Para os fundos, a venda das celulares é importante. Eles têm operações sobrepostas da Oi com a Telemig Celular e a Amazônia Celular, e já receberam um ultimato do governo. Um técnico da Anatel afirmou que a tendência é apoiar as investidas dos fundos.
