Tecnologia é aposta para ampliar diversificação a investidores de varejo

O uso mais intenso da tecnologia é a aposta do mercado para ampliar o acesso dos investidores de varejo a informações e, assim, aumentar a diversificação das carteiras desse público, ainda muito concentradas no Brasil em produtos tradicionais e de bastante liquidez, como os Certificados de Depósito Bancário (CDB). O Global Investor Pulse, da gestora global BlackRock, mostra que 94% dos brasileiros fazem algum tipo de atividade financeira online, número que pode abrir espaço para os chamados “robo-advisors”, que são serviços de investimento online que oferecem carteiras recomendadas aos clientes.

“A percepção do investidor é de que uma ferramenta digital pode oferecer aconselhamento mais objetivo e com mais simplicidade. E existe ainda a percepção de que o custo é mais baixo”, destaca a diretora operacional da BlackRock para América Latina e Ibéria, Karina Saade. A pesquisa da gestora apontou ainda que 74% dos brasileiros têm interesse nesse tipo de serviço. Um estudo recente realizado pela consultoria A.T. Kearne estimou que, até 2020, US$ 2 trilhões estarão aplicados por meio dos “robos advisors”, que, via modelos matemáticos, não só montam a carteira como realizam o rebalanceamento do portfólio de forma sistemática.

Tendo em vista esse movimento, a BlackRock adquiriu, no ano passado, a Future Advisor, que fornece esse tipo de serviço. Karina Saade afirma que os “robos advisors” não surgem para substituir os consultores financeiros, mas para atingir aquele público que não utiliza o serviço profissional. O estudo da BlackRock mostra que, entre os investidores no Brasil, apenas 22% se recordam de terem discutido alocação de ativos com seus consultores financeiros. “A consultoria digital pode ser uma ferramenta para brasileiros que queiram ter um pouco mais de conhecimento e não estão conseguindo”, destaca Karina. Como consequência, os portfólios dos investidores ganham uma maior diversificação, diminuindo a exposição aos ativos mais tradicionais e mesmo à poupança.

Dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), que considera a distribuição de produtos de varejo, mostra que ao final do ano passado, 43% dos recursos estavam aplicados na poupança, 23% em fundos de investimento e 32,9% em títulos e valores mobiliários, sendo que, dessa fatia, 28,3% eram CDBs.

Filão de mercado

Essas assessorias robotizadas viraram um filão do mercado de “fintech start ups” e diversas empresas desse perfil surgiram nos Estados Unidos, o que atraiu a atenção de grandes gestoras, como no caso da BlackRock. Fintech foi um termo criado para designar o segmento das startups que criam inovações na área de serviços financeiros.

A Magnetis, por exemplo, plataforma criada há um pouco mais de um ano, fez essa aposta, de olho nesse segmento no mercado brasileiro. Pelo site, o investidor pode fazer um cadastro, no qual é pedido o objetivo com o investimento, prazo e aplicação inicial, além de questões para identificar o apetite ao risco. Uma recomendação de investimento é dada gratuitamente em poucos segundos, com um portfólio que vai dos tradicionais CDBs a fundos, ações e ETFs, por exemplo, tudo selecionado por meio de algoritmos, que traçam o perfil do investidor e conectam o seu objetivo com o investimento.

Para aquele investidor que quer contar com o serviço de consultoria, é cobrada uma mensalidade, além das taxas específicas de cada produto da carteira. “Só paga quem quiser investir por meio da plataforma”, explica o presidente da Magnetis, Luciano Teixeira, destacando que o custo será muito mais baixo do que o para aqueles que preferem investir por meio de um banco, por exemplo. O executivo não abre o número de clientes pagantes, mas afirma que mais de dez mil pessoas já receberam a recomendação de investimento da Magnetis após a realização do cadastro. Para o cliente poder executar as ordens sem precisar sair da plataforma, a consultoria possui parceria com a corretora Easynvest.

Fragilidade

Em um primeiro momento, a tecnologia usada no ambiente de investimentos trouxe fácil acesso ao varejo e, agora, a segunda onda trará informações para esses investidores, destaca o diretor da Clear, corretora adquirida pela XP em 2014, Roberto Lee. Por lá, a área de pesquisa e inovação está atenta a esse movimento mundo afora, mas a percepção é de que o uso dessas ferramentas ainda está em fase de maturação, o que fica evidente quando se analisa o número de abertura de contas versus o de fechamento nessas empresas no exterior.

“Há muita abertura de conta, com um tíquete médio muito mais baixo e muito mais frágil. O cliente se descola muito rápido. No Brasil, a aplicação desses ‘robos advisors’ é ainda mais difícil, já que há poucos ativos no mercado para esses robôs escolherem e fazerem a alocação”, afirma Lee, da Clear.

Assim, o foco dos estudos tem sido em atendimento com o apoio de ‘big data’, que é o termo utilizado para designar grande volume de dados. “Com isso, é possível ter ideias de alocação não só baseadas em questionários, mas em dados sobre navegação e momento em que os aportes são feitos”, destaca Lee.

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