Onde conseguir recursos para criar novos parques tecnológicos e incubadoras de empresas? Essa é, provavelmente, a pergunta de maior relevância feita hoje pelo setor. Se até agora a mão do Estado tem sido onipresente na grande maioria dos países da América Latina, muitos defendem que chegou o momento de a iniciativa privada tomar as rédeas do movimento para que ele ganhe força e abrangência. Opinião compartilhada pela grande maioria dos gerentes de espaços de inovação presentes na Conferência Latino-Americana sobre Parques Tecnológicos, em realização em Foz do Iguaçu.
No Brasil, já existem diversos mecanismos que tentam facilitar a entrada dos investidores privados nos empreendimentos de alto nível de inovação tecnológica. Um deles é a Associação Brasileira de Capital de Risco (ABCR), criada para estimular a transferência de capital para empresas nascentes e emergentes. A ABCR já aplicou dinheiro de 64 instituições investidoras em cerca de 150 negócios que, de outra maneira, não teriam como captar recursos. Clovis Meurer, vice-presidente da ABCR, afirma que no ano passado finalmente foi registrada uma alta dos investimentos, que vinham recuando desde 2000 devido à crise do setor de internet nos EUA.
Meurer diz que a recuperação é reflexo tanto da estabilidade econômica quanto da criação de regras claras para esses investimentos, como a regulamentação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e a aprovação da nova Lei das Sociedades Anônimas. Isso está permitindo que empresas cujo processo de maturação é longo o que normalmente desestimula a entrada de investidores que desejam retorno no curto prazo possam receber recursos de origens diferentes em cada fase de seu desenvolvimento. Claro que, para isso, é preciso antes realizar um estudo de viabilidade dos produtos e da empresa como um todo.
Em alguns casos, a associação do poder público e da iniciativa privada pode ser uma solução. A Fundação Chile, criada há 28 anos para apoiar projetos de inovação tecnológica com potencial para aplicação na indústria chilena, tem um modelo baseado em duas etapas. Primeiro, o empreendimento é incubado até que tenha resolvido todos os gargalos de produção e gerenciamento graças a um acompanhamento técnico e a uma intensa transferência de tecnologia. Depois, a empresa incubada é transferida para o setor privado, que se encarrega de manter e expandir o negócio.
Graças a esse processo de incubação e transferência, a Fundação Chile se orgulha de ter patrocinado uma revolução na aqüicultura do país. “A nossa maior contribuição foi incorporar à economia do país novas tecnologias que tiveram sucesso no exterior”, explica a diretora regional da fundação, Beatriz Munizaga. O resultado é impressionante: a produção de peixes no Chile saltou de meras 8 mil toneladas em 1985 para 500 mil toneladas no ano 2000. Um crescimento de mais de 6.000%, obtido pela sistemática transferência de tecnologia dos pesquisadores para as empresas incubadas, que hoje operam sem nenhum apoio estatal.
Segundo Munizaga, toda a cadeia da aqüicultura foi beneficiada pelo processo. “O desenvolvimento de uma vacina nacional para imunizar os peixes contra a SRS (doença comum em tanques de criação) permite a economia de 150 milhões de dólares por ano”, conta a executiva. O mesmo foi feito em outras áreas da economia, como a indústria de carne bovina, a fruticultura e a indústria moveleira do Chile. Tudo isso com a participação ativa da iniciativa privada: atualmente, cerca de 75% das empresas criadas têm sócios. Nos anos 80, essa parcela era de apenas 13%.