O mercado de juros começou 2020 com taxas entre estabilidade e leve queda e liquidez abaixo do padrão, como era de se esperar para a volta do feriado do Ano Novo, com muitos players ainda fora das mesas. As taxas curtas e intermediárias oscilaram em baixa mas fecharam de lado, diante da percepção de que o crescimento da economia limita o espaço para cortes na Selic e pode até exigir algum aperto este ano, enquanto a ponta longa teve como principal referência do recuo do rendimento dos Treasuries. A agenda do dia, embora sem impacto direto sobre as taxas, contribuiu para o clima positivo. O superávit da balança comercial veio pouco acima da mediana das estimativas, o IPC-S de dezembro ficou abaixo do piso das previsões e a Fenabrave informou que o emplacamento de veículos registrou, em 2019, o melhor desempenho em cinco anos.
No fim da sessão regular, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 estava em 4,525%, de 4,561% no ajuste da segunda-feira, e a do DI para janeiro de 2023 passou de 5,794% para 5,78%. A do DI para janeiro de 2025 fechou em 6,39%, de 6,433% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 6,71%, de 6,763%. Na etapa estendida, estas taxas fecharam em 4,52%, 5,77%, 6,38% (mínima) e 6,71%, respectivamente.
O apetite pelo risco no exterior e que embalou os mercados de ações chegou com pouca força na curva local. “O dia foi de movimentação limitada nos DIs, apenas a parte longa caindo um pouco com os juros dos Treasuries de dez anos em baixa”, disse o trader da Sicredi Asset, Danilo Alencar.
Internamente, a percepção de que a economia está pegando embalo deve continuar limitando o espaço para fechamento das taxas, com respaldo hoje da agenda. A Fenabrave informou que foram vendidos 2,78 milhões de novos veículos no ano passado, maior número desde 2014 (3,5 milhões). No caso da balança comercial, o superávit em 2019 ficou em USS 46,674 bilhões. Se, de um lado, foi o pior resultado desde 2015, de outro, veio levemente acima da mediana das estimativas (US$ 46,044 bilhões). A perspectiva para 2020 é de que o saldo possa ser ainda menor, mas por um bom motivo: aumento das importações em meio ao crescimento da economia.
O aumento no ritmo de atividade, porém, não deve restringir o fôlego de alívio na Selic a ponto de demandar elevação expressiva da taxa básica, hoje em 4,5%, até porque o cenário de inflação é benigno, já com sinais de arrefecimento na pressão das carnes sobre os preços. O IPC-S de dezembro (0,77%) já subiu menos do que a previsão dos analistas (0,78%), fechando o ano com aumento de 4,11%, ante 4,32% em 2018. O coordenador do IPC-S, Paulo Picchetti, disse que o índice surpreendeu pelo comportamento dos variados cortes de carne bovina, que mostram alívio, embora ainda em patamar elevado.