Reajuste do telefone fixo ganha continua após a publicidade |
A cesta de tarifas públicas, que inclui gastos com energia elétrica, água e esgoto, telefone, entre outros itens, subiu 323,70% desde o início do Plano Real (julho de 94) até fevereiro último. A elevação superou de longe qualquer índice de inflação, do IPCA ao IGP-DI. Também deixou para trás o salário mínimo, que aumentou 301,30% no período. Conclusão? As tarifas públicas, que comprometiam 16% do salário de um trabalhador em julho de 94, comprometem agora 32% do orçamento.
?O governo fez com que houvesse uma reestruturação dos gastos das famílias. Hoje as pessoas gastam mais com tarifas e menos com outros itens, como educação, alimentos, lazer?, apontou o economista Sandro Silva, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos, regional Paraná (Dieese-PR).
Entre os itens que mais subiram no período, destaque para a telefonia fixa. O pulso local passou de R$ 0,03 para R$ 0,14 – aumento de 396%. O preço da assinatura mais 250 pulsos saltou de R$ 8,11 para R$ 74,23 – aumento de 815,32%, enquanto a assinatura residencial passou de R$ 0,61 para R$ 37,02 – salto de 5.968%. ?Esses aumentos ocorreram com o processo de preparação e pós-privatização, que fizeram com que os serviços fossem indexados ao IGP-DI?, explicou Silva. Apesar disso, o aumento de alguns itens não faz qualquer sentido. É que o Índice Geral de Preços Disponibilidade Interna (IGP-DI) – índice mais alto de inflação – subiu apenas 258,78% no período.
Outros itens que pesaram no bolso do consumidor foram a tarifa de ônibus em Curitiba, que passou de R$ 0,40 para R$ 1,90 (aumento de 375%); energia elétrica, cujo Kw passou de R$ 0,09 a R$ 0,38 (318%); água e esgoto, de R$ 8,91 para R$ 30,25% (alta de 239%) e correio – carta simples, que passou de R$ 0,12 para R$ 0,55 – aumento de 358%.
Os combustíveis também tiveram aumento significativo: a gasolina, de 284% – com o litro passando de R$ 0,53 para R$ 2,07 -, o álcool, de 216% – de R$ 0,42 para R$ 1,34 – e o diesel, com alta de 396% – passando de R$ 0,33 para R$ 1,64.
?É um descompasso entre o reajuste das tarifas e os índices negociados com os trabalhadores?, apontou Sandro Silva. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) e o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que servem como referência no reajuste salarial dos trabalhadores, aumentaram 189,26% e 183,08%, respectivamente, no período. Já o salário mínimo passou de R$ 64,79 para R$ 260,00 – aumento de 301%.
Alimentos
Na contramão, os alimentos foram um dos poucos itens que subiram menos do que a inflação, conforme levantamento do Dieese-PR. A cesta básica, que custava R$ 64,00 em julho de 94 passou para R$ 164,13 em fevereiro último – aumento de 156,45%. As maiores altas vieram da carne (coxão mole), com o quilo passando de R$ 3,12 para R$ 8,98 – aumento de 188% -, e do pão francês, que passou de R$ 0,07 para R$ 0,19 (180% de aumento). O item que menos subiu foi o café – o quilo custava R$ 6,08, e agora, R$ 8,29 – aumento de 36%. ?Os alimentos devem acabar segurando os preços e a inflação?, comentou Sandro Silva.
Para o economista, para frear as tarifas públicas, é necessário que o governo revise os contratos das concessões dos serviços públicos. ?Em função desses contratos, o próprio governo cria a inflação futura?, apontou. Foi o que aconteceu no ano passado, por exemplo: quase 3% do IPCA de 2004 – que foi de 7,60% – aconteceu em função das tarifas públicas. ?As próprias agências reguladoras não têm muita força de controlar esses aumentos?, criticou o economista.