Tarifas pesam no bolso do curitibano

Moradores de Curitiba, preparem o bolso. O acúmulo de encargos que costuma ocorrer todo começo de ano, em 2004 vai se concentrar em fevereiro. Além dos tradicionais impostos que precisam ser recolhidos nesta época – IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) e IPVA (Imposto sobre Propriedade de Veículo Automotor) – a população vai pagar mais caro pelas tarifas de energia elétrica e água e esgoto. Se servir como consolo, a possibilidade de quitar o IPTU e o IPVA em parcela única, com desconto – que sempre ocorria em janeiro – passou para fevereiro. Mas como coincidem com a retirada de desconto da Copel e o aumento da Sanepar, que começaram a vigorar na metade de janeiro, causarão um impacto maior no orçamento no segundo mês do ano.

Estimativa elaborada pelo Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social), a pedido de O Estado, aponta que somente estas quatro taxas causarão um impacto de 0,17 ponto percentual no Índice de Preços ao Consumidor de Curitiba (IPC) em janeiro, 0,25 em fevereiro e 0,08 em março. Isso sem considerar os gastos com matrículas, material escolar e os aumentos dos combustíveis e alimentos, que iniciaram o ano puxando a inflação. Outro fator que pode pressionar positivamente a taxa de Curitiba em fevereiro é a tarifa de ônibus urbano, cujo reajuste de 15% foi cancelado pelo prefeito em exercício, Beto Richa.

Impactos

As tarifas de energia elétrica subiram 13,55% com a retirada do desconto. Como o reajuste integral passou a incidir nas contas a partir de 15 de janeiro, representa uma alta de 7,51% em janeiro, com impacto de 0,17 ponto percentual no IPC, índice que mede o custo de vida para famílias curitibanas com renda mensal entre um e quarenta salários mínimos. Em fevereiro, a elevação de 5,83% na energia contribuirá com 0,13 no IPC. De acordo com o Ipardes, os gastos com energia elétrica consomem 2,36% da renda anual média das famílias curitibanas de classe média.

O reajuste de 14,01% na taxa de água e esgoto também será distribuído: 6,54% em fevereiro, com impacto de 0,0648, e 7,01% em março, influenciando em 0,0693 o índice inflacionário calculado pelo Ipardes.

Já o IPTU subiu 8,5% em Curitiba, com possibilidade de desconto de 8,5% para quem pagar à vista, em fevereiro. “Como no ano passado, o desconto era de 10%, há uma diferença que afeta os que, historicamente, pagam à vista”, explica o economista Gino Schlesinger, do Ipardes. Por causa do percentual de desconto menor que em 2003 e considerando que, em média, 30% dos proprietários de imóveis fazem o pagamento à vista, o aumento médio do valor do imposto foi estimado pelo Ipardes em 9,04%. Isso significa 3,58% de alta em fevereiro, com pressão positiva de 0,043 no IPC e, de março a novembro, aumentos mensais de 0,57% e impacto de 0,007.

No IPVA, apesar da manutenção da alíquota, o Ipardes projeta uma variação média de 6,58%. Segundo Schlesinger, isso se deve à valorização do valor venal do carro. Para quem pagar em parcela única entre 9 e 20 de fevereiro, o desconto é de 15%. Para pagamento à vista em março, o desconto é de 5%. Pelos cálculos do Ipardes, isso significa aumento de 4,56% em fevereiro, com impacto de 0,017, 0,64% em março (pressão de 0,002) e 0,32% de abril a julho (influência de 0,001). “O IPVA representa 0,37% do orçamento das famílias. Já com o IPTU, as pessoas gastam em média 1,23% da renda anual”, comenta o economista do Ipardes.

Pressão

Em função dessa combinação de reajustes nos dois primeiros meses do ano, Schlesinger estima que janeiro e fevereiro responderão por metade da inflação de 2004. Na prévia da terceira quadrissemana de janeiro, o IPC registrou elevação de 1,19%. O técnico do Ipardes projeta taxa mensal entre 1,30% e 1,40% – mesmo assim, menor que a registrada em janeiro do ano passado (1,88%). Em fevereiro de 2003, o IPC ficou em 0,61%. “Nesse ano vai ficar maior”, sinaliza o economista, destacando que “além dos aumentos tradicionais desse período, como educação e excursão, juntou a gasolina, a energia elétrica e a água”. Além disso, o preço dos alimentos vem subindo a cada quadrissemana.

Impacto é maior para quem tem baixa renda

Para a população de baixa renda, o impacto dos aumentos nas tarifas e impostos é mais representativo. O Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos) calculou para O Estado a influência dos reajustes em dois índices de inflação do IBGE: IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), referente à famílias com rendimento mensal entre um e quarenta salários mínimos, e no INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), que se refere à famílias com rendimento entre um e oito salários mínimos. Diferente do levantamento do Ipardes, o Dieese simulou a variação integral sobre a inflação anual, não levando em consideração os impactos mensais.

No INPC, a soma dos reajustes da energia, água e IPTU totalizou 1,13 ponto percentual. No ano passado, o INPC teve variação de 7,47% em Curitiba, a menor do País. Em dezembro, a taxa foi de 0,22%. A energia consome 6,04% do orçamento anual do curitibano com renda entre um e oito salários, com impacto de 0,85 ponto percentual na inflação anual. Com peso de 1,82%, a tarifa de água e esgoto vai contribuir com 0,24 na inflação. Já o IPTU, com peso de 0,56%, colabora com 0,11 no INPC.

No IPCA da capital paranaense deste ano, os quatro impostos e tarifas vão refletir em 0,73 ponto percentual. No ano passado, a taxa foi de 7,33% e em dezembro, de 0,33%. A maior influência em 2004 é da energia (0,42), cujo peso é 2,97%. A taxa de água pesa 1,39% no orçamento anual e impacta em 0,18 o custo de vida de quem ganha entre um e quarenta salários. O IPTU consome 1,33% da renda dessa faixa da população, com influência de 0,11 na inflação. Já o IPVA pressiona pouco: 0,02.

Apesar dos descontos oferecidos para quitação do IPTU e do IPVA à vista, o economista Cid Cordeiro, supervisor técnico do Dieese, adverte que cada pessoa precisa avaliar a melhor forma de efetuar o pagamento, em função das suas condições financeiras. “Para quem tem dinheiro disponível, pagar à vista é vantagem. Mas não é vantagem entrar no cheque especial ou fazer um empréstimo para pegar o desconto, porque o custo do tributo sem o desconto é mais baixo do que os juros”, ressalta.

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