Rio – Além de engordarem seus lucros em 2002 com operações de câmbio e juros, os bancos também estão ganhando dinheiro com as tarifas cobradas dos clientes. Levantamento da Fundação Procon – SP mostra que, entre março e outubro, os bancos alteraram 91 tarifas – desse total, 73 foram aumentos de preços, quatro foram criação de tarifas, duas foram mudanças no critério de cobrança, outras duas foram tarifas que deixaram se ser cobradas pela interrupção do serviço/produto e apenas dez foram redução de preços.
O Banco BBV foi o que mais aumentou tarifas. Na instituição, a contratação e renovação trimestral do cheque especial passou dos R$ 10 cobrados em março (data da última coleta realizada pelo Procon) para R$ 20 em outubro – uma diferença de 100%. O saque nos terminais do banco também ficou mais caro: de R$ 0,45 para R$ 0,80 (77,78%).
A Caixa Econômica Federal ficou em segundo lugar entre os que mais aumentaram. A emissão de cartão magnético na abertura de conta comum passou de R$ 3 para R$ 5,20 (73,33%). Já a compensação de cheques, que custava R$ 0,30 em março, agora sai por R$ 0,50 (66,67%).
Para aumentar seu faturamento, os bancos também trataram de criar tarifas. No HSBC, por exemplo, o depósito e a compensação de cheques, que antes eram serviços gratuitos, agora custam R$ 0,50 e R$ 0,20, respectivamente. No Banespa, os depósitos em cheque, que também eram isentos, custam hoje R$ 0,50.
De acordo com Marcelo Vel-loso, diretor-adjunto de Marketing e Produtos do HSBC, o banco alterou as tarifas para alinhar-se aos preços adotados no mercado.
– Há um ano não mexíamos nas tarifas. Nossa filosofia é oferecer serviços de alto valor agregado a preços justos. Prova disso é que, mesmo depois dos aumentos, ainda temos as taxas mais competitivas do mercado. Entre os bancos de primeira linha, oferecemos as tarifas mais baixas – diz.
Cliente da Caixa, o funcionário público Paulo César Trevenzoli resume os aumentos com uma só palavra: abuso.
– Metem mesmo a mão no bolso da gente – afirma.
Para o economista Marcos Bandeira, cliente do Unibanco, os aumentos não seriam tão freqüentes se os clientes fiscalizassem seus extratos, acompanhando de perto a evolução das tarifas.
– Pecamos pela desinformação. Aí, os bancos aproveitam. E lucram duas vezes: emprestando o dinheiro que a gente aplica e, ainda, reajustando as tarifas – comenta.
Apesar de todos os aumentos, também houve redução de preços. O BBV, por exemplo, reduziu em 43,33% a tarifa cobrada nos saques no Banco 24 Horas, que passou de R$ 3 para R$ 1,70. Entretanto, a mesma operação subiu 18,18% no Unibanco, onde custava R$ 1,65 em março e hoje vale R$ 1,95. No Banco do Brasil, ela passou de R$ 1,50 para R$ 1,73, um aumento de 15,33%.
Irvando Hoff, gerente-executivo de Varejo do Banco do Brasil, alega que o reajuste na tarifa aconteceu porque a empresa que gerencia o Banco 24 Horas aumentou seus custos, forçando o repasse ao correntista. Entretanto, ele não comentou a redução que foi adotada pelo BBV.
De todos os bancos analisados, o que mais reduziu tarifas foi o Santander. O segundo extrato em terminal bancário em um período de sete dias passou de R$ 2,74 para R$ 1,30, uma variação de 52,55%. Já o saque no terminal passou de R$ 2 para R$ 1,50 (-25%). Em contrapartida, no Banespa, banco do Grupo Santander, algumas tarifas subiram até 66%.
Segundo a instituição, o aumento ou redução depende da base de clientes e do serviço de cada banco.
O que cobra cada banco
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL: a emissão de cartão magnético passou de R$ 3 para R$ 5,20 (+73,33%) e a compensação de cheques, que era R$ 0,30 em março, hoje é de R$ 0,50 (+66,67%). A manutenção mensal de conta corrente passou de R$ 3 para R$ 4,50 (+50%)
BANESPA: a manutenção de conta era R$ 3 em março e saltou para R$ 5 (+66,67%)
BBV BANCO: a contratação ou renovação trimestral do cheque especial passou de R$ 10 para R$ 20 (+100%) e o saque no terminal, que era R$ 0,45, hoje é R$ 0,80 (+77,78%)
BRADESCO: a compensação de cheques, que em março custava R$ 0,20, passou para R$ 0,24 (+20%) e a contratação e renovação trimestral do cheque especial passou de R$ 8,40 para R$ 10 (+19,05%)
HSBC: o cheque avulso era R$ 1,80 e hoje custa R$ 2,90 (+61,11%) e a contratação e renovação do cheque especial passou de R$ 12 em março para R$ 16 (+33,33%)