O atraso no cronograma de algumas hidrelétricas já começa a ter impacto na conta de luz dos brasileiros. Segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a tarifa cobrada pelo uso do sistema de transmissão (chamada de Tust), que compõe o custo da energia elétrica no Brasil, subiu em média 70% na parcela que cabe aos consumidores. Os residenciais e demais clientes atendidos pelas distribuidoras vão sentir os efeitos do aumento a partir dos reajustes anuais. Os grandes consumidores já começaram a pagar a conta, aprovada em junho.

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A receita das empresas do sistema de transmissão de energia, que interliga as cinco regiões do País, é bancada pelos geradores e consumidores. Com a MP 579, que renovou alguns contratos de concessão, a parcela dos consumidores caiu de 52,74% para 31,33% – o que significou um custo menor na conta de luz. Mas, com a frustração da entrada em operação de algumas unidades geradoras, a participação voltou a subir e alcançou 40%. Esse movimento vai representar uma conta de R$ 1,1 bilhão que os consumidores terão de pagar a mais.

Conforme a nota técnica da Aneel deste ano, comparada com a de 2013, há casos de companhias do setor de mineração e de alimentos que tiveram aumentos superiores a 100% na tarifa, como é Alcoa e Sadia, por exemplo. “A indústria está muito insatisfeita. Ela não teve direito às cotas da energia barata das usinas antigas (renovadas) nem teve acesso à energia dos leilões das novas hidrelétricas. E agora tem de pagar o prejuízo”, reclama o presidente da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), Paulo Pedrosa.

Ele explica que, numa situação normal, de cronograma em dia da entrada em operação das usinas, o gerador paga pela transmissão da energia. Como a usina atrasou e não entregou a eletricidade, a conta foi parar no colo dos consumidores, já que a receita precisa ser arrecadada para pagar o transmissor.

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Segundo a nota técnica da Aneel, quase 3 mil megawatts (MW) foram retirados do ciclo 2014/2015, entre outros fatores, “devido aos atrasos na entrada em operação das unidades geradoras”. A tabela com as revisões da capacidade de geração das usinas inclui as hidrelétricas Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira, Santo Antônio do Jari, Ferreira Gomes e Teles Pires. O documento ressalta, entretanto, que as usinas ” Santo Antônio e Jirau têm pleitos na Agência para revisão dos cronogramas e que decisões parciais não estão refletidas nos contratos de uso do sistema de transmissão dessas usinas”.

Outra reclamação refere-se aos descontos concedidos às fontes renováveis e que está incluído na conta. “Em 2012, comemoramos a decisão de que o Tesouro passaria a arcar com as despesas relacionadas às políticas públicas do setor, mas esse desconto continua saindo do caixa dos consumidores”, diz Pedrosa.

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Na avaliação do diretor da Associação Brasileira das Grandes Empresas de Transmissão de Energia Elétrica (Abrate), César de Barros Pinto, com a necessidade de expansão do sistema de transmissão, a tendência é que o peso desse custo aumente cada vez mais. As novas linhas são de longa distância e exigem grandes investimentos. De 1999 pra cá, a rede nacional cresceu de 67 mil quilômetros para cerca de 100 mil quilômetros.

Audiência

Barros destaca, porém, que, com a renovação das concessões em 2103 e a queda nas receitas de algumas transmissoras, a questão da manutenção tem sido assunto recorrente. Ele conta que vai entrar em audiência pública uma pauta para tentar resolver a questão. Hoje, qualquer investimento na rede de transmissão precisa ser aprovado pela Aneel para ter reembolso. O problema é com alguns equipamentos do dia a dia que custam caro e precisam ser trocados. Nesse caso, a empresa só vai receber após uma revisão tarifária. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.