Tapetes de Tijucas do Sul para a Europa

Tapetes produzidos com fibras naturais por famílias carentes de Tijucas do Sul, a 60 quilômetros de Curitiba, devem ?cair no gosto? europeu. Pelo menos é esta a expectativa da coordenadora do projeto Vivat Tapetum – uma parceria entre a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e a Instituição Filantrópica Sergius Erdelyi -, Glória Xavier Pedro; das 35 famílias que se dedicam à produção da tapeçaria artesanal e do ?pai do projeto?, Sergius Erdelyi.  

?Como tudo no Brasil começa depois do Carnaval, a gente acredita que as exportações iniciem no mês que vem?, apontou Glória, lembrando que a expectativa sobre as vendas para o mercado europeu duram quatro meses. Em contrato já assinado, a empresa espanhola Governance Consulting, com sede em Barcelona, será a responsável pela distribuição e comercialização do produto em toda a Europa. O contrato, segundo ela, não é de exclusividade, o que garante a possibilidade de vender os artigos para todos os mercados, inclusive o brasileiro.

?A gente iniciou a produção, mas sem se preocupar com a demanda. O que queríamos era ver a alegria daquelas famílias carentes, a participação?, contou Glória, referindo-se ao aspecto social do projeto. ?Mas quando resolvemos oferecer o produto, percebemos que no exterior ele seria muito bem aceito. O poder aquisitivo, especialmente do mercado europeu, também é maior?, disse. Depois de muitos contatos, surgiu a parceria com a empresa espanhola, que irá comercializar os produtos inicialmente na França, Itália, Espanha, Portugal e Alemanha.

Pelo contrato estabelecido, deverão ser mandados para o exterior cerca de 50 peças por mês. Além de tapetes – que têm desenhos únicos e exclusivos, fatores fundamentais para o sucesso do produto na Europa -, as famílias produzem outros artigos, como almofadas, puffes, banquetas, bolsas e coletes. ?Queremos levar para a Europa todas essas linhas, com exceção da banqueta, que por ser feita de madeira requer uma série de exigências para ser exportada?, explicou. Ela salientou ainda que as embalagens dos produtos precisam ser especiais. ?Por enquanto, estamos selecionando o material e vamos comprar a embalagem.?

Fila de espera

A expectativa para iniciar logo as vendas para o exterior não está relacionada apenas ao aspecto financeiro. Segundo a coordenadora do projeto, há uma fila de espera de aproximadamente 30 pessoas dispostas a trabalhar na tapeçaria artesanal. Mas elas só poderão começar a produzir quando as vendas de fato alavancarem.

Além da negociação com o mercado europeu, a coordenação do Vivat Tapetum organizou formas diversificadas de venda. Desde a implantação, os produtos sempre estão expostos em feiras de artesanato em diferentes estados brasileiros. Os tapetes também podem ser adquiridos no showroom na sede do projeto, em Tijucas do Sul, ou por meio de catálogos, representantes ou no site www.vivatfloresta.org. Todo o dinheiro das vendas, sem fins lucrativos, é usado no pagamento dos artesãos, na compra de material e na manutenção de uma creche, que atualmente atende a 69 crianças da comunidade.

Projeto começou como preservação da memória

A origem do projeto tem um responsável: o artista austríaco Sergius Erdelyi, 87 anos, que desembarcou no Brasil em 1953 e adotou Tijucas do Sul como sua cidade desde 1975. Convivendo com as necessidades das famílias locais, Sergius, que possui obras em vários museus brasileiros e de países como Áustria, Estados Unidos e Alemanha, decidiu desenvolver o projeto para ajudar na geração de renda suplementar. Ao mesmo tempo, aproveitou para preservar a memória da mãe, tecelã em sua terra natal e de quem recebeu os ensinamentos. ?O objetivo é o de profissionalizar os artesãos, tornando essa atividade competitiva e auto-sustentável, gerar empregos locais e preservar a cultura?, afirmou Erdelyi, ?pai do projeto?.

O Vivat Tapetum é um projeto único de tapeçaria artesanal. Com matéria-prima 100% natural, como lã de carneiro, algodão, seda, cascas de árvores, sementes e flores, os artesãos confeccionam seus tapetes. O sistema de produção, que gira em torno de 50 unidades por mês, segue algumas etapas. Primeiro, os desenhos são feitos por Sergius no modelo ainda cru. Cada artesão retira na sede do projeto o modelo e todo material necessários, desde as agulhas até a lã. A produção é realizada em casa, com o auxílio da família, e os artesões são remunerados de acordo com a sua produção.

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