A pressão feita nas últimas semanas por clientes chineses para que os fabricantes de celulose de fibra curta reduzam seus preços está sendo enfrentada pela indústria brasileira. Após a Fibria informar no mês passado que vendeu menos do que poderia no primeiro trimestre de 2014 por conta da pressão feita pelos chineses, agora é a vez de a Suzano Papel e Celulose dar a mesma indicação. Em entrevista ao Broadcast, o presidente Walter Schalka afirmou que a companhia não vê fundamentos para a redução dos preços proposta pelos asiáticos e deixou claro que o volume de vendas poderia ter sido mais alto não fossem as discussões a respeito de preços na China.
“Fizemos um estudo bastante profundo a respeito de demanda e oferta. A oferta subiu em um ritmo abaixo do que o esperado e a demanda está crescendo. O que acontece é um processo de desestocagem feito pelos clientes pensando que os preços podem vir a cair”, resume Schalka.
Essa pressão dos asiáticos é sustentada no aumento da oferta mundial de fibra curta provocada pelo início da operação da fábrica de celulose de eucalipto da Suzano em Imperatriz (MA), no fim do ano passado, e pelo aguardado início da produção da Montes del Plata, no Uruguai. Esta segunda unidade deve iniciar produção entre junho e julho. Ainda assim, pondera Schalka, o impacto da nova capacidade seria efetivo no mercado apenas no fim de 2014. “Vemos a demanda na América do Norte e na Europa superior ao que estava e acredito que os preços ficarão mais estáveis durante o verão”, afirma o executivo em referência ao período mais quente no Hemisfério Norte, quando as fábricas de papel são paralisadas para atividades de manutenção programadas. “No caso da China, é possível que tenhamos grande volatilidade”, completou o executivo.
Como as negociações com os chineses costumam ser mais acirradas do que as tratativas com europeus e norte-americanos, o período de verão do Hemisfério Norte tende a ser marcado por uma pressão adicional por parte dos clientes asiáticos. Desde o início do ano, a cotação da celulose de fibra curta vendida na China já caiu quase US$ 50 por tonelada no mercado spot, contra uma variação de menos de US$ 17 por tonelada na Europa.
“A questão é saber até quando esse processo (de desestocagem) vai acontecer. É possível que depois do verão os preços até subam”, alerta Schalka, evitando fazer projeções de números e destacando a expectativa de uma maior volatilidade naquela região. Ou seja, é possível esperar que os preços caiam durante o verão, mas em seguida, com a retomada das fábricas de papel, eles possam se recuperar, a despeito do início da produção da fábrica no Uruguai e da plena capacidade na linha de produção da Suzano em Imperatriz.
Schalka sugeriu no início deste ano que os fabricantes de celulose poderiam limitar a oferta do insumo para fazer frente à pressão internacional. Agora, ele voltou a comentar a possibilidade e mostrou contrariedade com a maneira como clientes tentam pressionar os fornecedores. “Não entendemos ser razoável a queda de preço nessa magnitude (proposta pelos chineses)”, complementou.