São Paulo – Mais um indicador econômico surpreendeu positivamente os analistas do mercado financeiro. Depois da balança comercial e do saldo positivo em transações correntes, foi a vez do superávit primário do setor público em setembro, divulgado ontem pelo Banco Central: R$ 10,253 bilhões. O mercado esperava um resultado entre R$ 8 bilhões e R$ 9,6 bilhões.
O BankBoston, segundo seu economista sênior, Marcelo Cypriano, é o que tinha a previsão maior. “Trabalhávamos com a previsão de um superávit primário de R$ 9,6 bilhões para setembro por causa da boa arrecadação no período”, diz Cypriano. Os números das empresas estatais, de R$ 3,100 bilhões, ultrapassaram as expectativas do Departamento Econômico do Boston, que era de R$ 1,910 bilhão.
“O que frustrou foram os resultados do governo federal. Esperávamos um superávit de R$ 6,600 bilhões, enquanto os dados oficiais mostraram um superávit de R$ 6,040 bilhões. São quase R$ 600 milhões a menos”, diz o economista do BankBoston. Além disso, os municípios registraram um déficit de R$ 140 milhões, enquanto o economista trabalhava com a expectativa de superávits permanentes.
O desempenho do setor público consolidado de setembro também superou a expectativa do economista-chefe do HSBC, Alexandre Bassoli, que esperava um superávit primário de R$ 8 bilhões. O economista lembra que o superávit de setembro tem como base fundamental a arrecadação federal, que teve a contribuição da arrecadação extraordinária estimulada pela Medida Provisória 176, que estabeleceu condições especiais para as empresas estatais acertarem seus débitos com o governo federal.
Para Bassoli, não há mais dúvida de que a meta de superávit primário para este ano, de 3,79% do Produto Interno Bruto (PIB), será cumprida. “O foco agora está nas discussões sobre o Orçamento para 2003, que provocam incertezas sobre a consistência do Orçamento que será aprovado, diante da dívida pública”, afirma Bassoli.
Apesar de ter se surpreendido pelo superávit primário de R$ 10,253 bilhões, que supera em R$ 1,553 bilhão, a previsão de saldo positivo de R$ 8,700 bilhões, o economista Fábio Akira Hashizume, do JP Morgan, lamenta o fato de este número ainda não ser suficiente para estabilizar a relação dívida/PIB, que fechou o mês passado em 63%. “O resultado mostra que as medidas do governo estão na direção correta, mas, se o câmbio continuar se desvalorizando, será preciso intensificar o esforço fiscal para o próximo ano”, diz.
O economista-chefe do BicBanco, Luiz Rabi, compartilha do raciocínio de Akira. Para ele, a incapacidade de o superávit, ainda que recorde, estabilizar a relação dívida/PIB resulta da desvalorização cambial em setembro, de 25%, na comparação ptax contra ptax. Agora, afirma o economista, o câmbio está se apreciando e, se o dólar fechar a R$ 3,79 – este mês já houve uma valorização de 5% -, a relação dívida/PIB deverá recuar para 61%. “O que preocupa é que, mesmo que a relação dívida/PIB recue para 61%, a sua trajetória ainda é de alta, uma vez que em dezembro ela era de 53%”, afirma o analista do BicBanco.
Déficit chega a R$ 70 bi
São Paulo
(AE) – O ministro da Previdência Social, José Cechin, afirmou ontem que a Previdência fechará 2002 com um déficit de R$ 70 bilhões. “Pelas reformas já feitas no governo Fernando Henrique Cardoso, o déficit está equalizado”, afirmou. Segundo ele, dos R$ 70 bilhões, R$ 53 bilhões são do serviço público, que envolve União, Estados e municípios. Os outros R$ 17 bilhões de déficit vêm do INSS.Cechin disse que para reduzir este déficit é preciso incentivar os contribuintes a se aposentarem mais tarde e a mais pessoas passarem a contribuir com a previdência. Para convencer o trabalhador a pedir aposentadoria mais tarde, Cechin disse que o benefício tem que aumentar ano a ano. E para fazer crescer o número de contribuintes, é preciso flexibilizar e diversificar os produtos da previdência pública. “O setor privado faz isso. Que tal flexibilizar a contribuição? Aqueles autônomos ou desempregados que não têm como fazer a contribuição completa, poderiam pagar metade do valor e aumentar o tempo de contribuição”, exemplificou o ministro.