O resultado anunciado nesta sexta-feira, 28, de um superávit primário do governo central de R$ 12,954 bilhões em janeiro não é uma boa notícia, mas deve ser relativizado, na avaliação do economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal. “Esse resultado, na verdade, é um espelho do que aconteceu em dezembro, quando o governo tentou melhorar o dado do fim do ano e deixou despesas para sair do caixa em janeiro”, explica.
No último mês do ano passado, o superávit primário do governo central – que reúne as contas do Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central – foi de R$ 14,532 bilhões. Para Leal, o desempenho de janeiro obviamente não é positivo, mas não deve ser visto como tendência. “Se dezembro ficou melhor por causa de um deslocamento de despesas, era óbvio que janeiro viria pior. Não é uma boa notícia, mas não acho que podemos usar o dado de janeiro como tendência”, reforça.
Segundo Leal, é natural o mau humor com que o mercado recebeu o número, já que o cenário de 2014 prevê um superávit melhor que o do ano passado e, logo no primeiro mês, “já saímos com R$ 13 bilhões a menos”, afirma, referindo-se ao desempenho de janeiro de 2013, quando o saldo positivo foi de R$ 26,146 bilhões. “Daí o mau humor, mas eu acho que foi um resultado pontual, de deslocamento de despesas”, afirma.
O economista diz ainda que não é a primeira vez que esse deslocamento é feito nem é o primeiro governo que se utiliza desse mecanismo. “Controle de despesa na boca do caixa é mais regra do que exceção”, avalia. Para Leal, o resultado não significa “uma prova cabal” de que o governo não está comprometido com o resultado fiscal. “Mas, claro, que o governo terá de pedalar mais para conseguir o resultado final”, pondera.