O projeto de expansão do consumo de gás natural em toda a Região Sul do país pode ser prejudicado em função do elevado preço do combustível importado da Bolívia. O aumento acumulado no custo de compra para as três distribuidoras (Compagas, SCGás e Sulgás) neste ano (projeção de janeiro de 2002 a janeiro de 2003, com o câmbio a R$ 3,75) é de 83,5% – o que deixa as distribuidoras em situação limite. Não podem repassar o valor total ao consumidor final -que deixaria de consumir o gás natural -, e, com isso, acumulam prejuízos. O problema é que a Petrobras, empresa responsável pela venda tanto do gás natural nacional quanto do importado a todas as distribuidoras do país se recusa a negociar com as empresas do sul o preço do combustível.
“A situação está insustentável e, sem uma melhor negociação da Petrobras, todo o programa do gás natural poderá ser comprometido”, diz o presidente da Compagas, Antonio Fernando Krempel, que participou, como representante da região sul, de uma reunião que aconteceu no início da semana e tinha o objetivo de discutir o assunto. A reunião foi agendada pela Abegás (Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Natural) e seria para renegociar com a Petrobras tanto o preço do gás nacional quanto o do importado. Só que os representantes da empresa disseram que só iriam tratar do assunto gás natural nacional, prejudicando e excluindo da discussão as três distribuidoras do sul que só tem como fonte de consumo o gás boliviano proveniente do gasoduto Bolívia-Brasil. “Não existe uma razão lógica para essa postura da Petrobras, uma vez que o gás importado subiu 83,5% e o nacional 21,5% no mesmo período”, comenta Krempel.
Enquanto as distribuidoras do sul pagam à Petrobras R$ 0,458 o m³, as do Sudeste e Nordestes pagam R$ 0,245 o m³, ou seja, cerca de 60% a menos.
As distribuidoras do Sul sugerem, como alternativa, a retomada das obras do gasoduto Uruguaiana-Porto Alegre – o que daria mais uma opção de compra do gás (nesse caso, importado da Argentina). A oferta do gás argentino tanto para as termelétricas quanto para as indústrias da região sul pode ser uma alternativa viável frente ao gás boliviano porque pode chegar à região até 40% mais barato.
A atual disparidade de preços do gás natural causa um desequilíbrio regional, provocando a perda de competitividade das indústrias dos Estados do Sul tanto no mercado interno quanto no externo. As indústrias que
adotaram o gás natural começaram a ter que arcar com os constantes aumentos do preço desse energético, influenciados pelas variações cambiais e do preço do barril do petróleo.
No Paraná, hoje, o gás natural é utilizado por 83 empresas, sendo onze postos de combustível, duas células de combustível, sete estabelecimentos comerciais, a UEG Araucária em fase de testes e 62 indústrias, responsáveis por 80% do consumo médio de 55 m³/dia no Estado, com picos acima de 600 mil m³/dia (e ultrapassando 3 milhões de m³/dia, contando com a UEG).