Produtores cobram medidas do governo federal para recuperarem perdas. |
Aos poucos, os suinocultores paranaenses estão revertendo a crise do ano passado, que foi provocada pelo excesso de oferta e aumento do preço dos insumos. Mas apesar de os preços pagos aos produtores do Estado terem fechado em alta na semana passada – chegando a R$ 2,00 o quilo do suíno vivo em algumas regiões – o presidente da Associação Paranaense dos Suinocultores (APS), Irineu Wessler, diz que o momento não é de euforia. “Os produtores estão descapitalizados por causa da crise. Recuperando as margens, eles podem saldar seus compromissos”, afirma.
Os produtores integrados – que representam aproximadamente 70% do total de suinocultores do Estado – receberam de R$ 1,65 a R$ 1,87 por quilo de suíno na última semana. Já a cotação paga os independentes foi de R$ 1,60 em média, que, acrescida do abono por tipificação de carcaça, saltou para R$ 1,95 a R$ 2,00. O custo de produção está ao redor de R$ 1,52 por quilo. “A oferta está menor que a demanda do mercado, com isso os preços melhoraram”, aponta o vice-presidente da APS, Romeu Royer. Mas segundo ele, as cotações precisam evoluir mais um pouco para que os suinocultores revertam os prejuízos. “A tendência é o preço continuar subindo. O boi está subindo e puxa as outras carnes”, comenta Royer.
Antes da crise do ano passado, havia 31 mil produtores de suínos no Paraná. Segundo informações da APS, de lá para cá o número de propriedades caiu mais de 30%, se refletindo em redução de quase 10% no plantel – que passou de 340 mil para 310 mil matrizes. “O pequeno produtor parou porque não tinha como sustentar a atividade. Os que continuam produzindo são os suinocultores especializados, médios e grandes”, cita Royer. Neste ano, a produção suinícola paranaense será ainda menor. O presidente da APS, Irineu Wessler, projeta uma redução de 15 a 18%.
O setor está preocupado porque o governo federal ainda não atendeu o pedido de adiamento das dívidas contraídas para manter a atividade. “A primeira parcela de grande parte dos financiamentos começam a vencer em setembro e outubro e até agora não houve uma medida do governo federal que prorrogasse a dívida”, destaca Wessler. Segundo ele, o governo havia prometido resolver esta questão em 60 dias. Como o prazo expirou, as entidades representativas do setor estarão novamente em Brasília nesta semana para pleitear providências ao Ministério da Agricultura.
Os suinocultores reivindicam um alongamento dos prazos de pagamento da linha de crédito para retenção de matrizes na propriedade (que liberou R$ 200 por cabeça) e dos financiamentos para investimentos em pocilgas e material genético. “Se o governo adiar as dívidas, beneficia o suinocultor, mantendo sua família na propriedade e oferecendo oportunidade de empregos. Isso traz reflexos em toda a economia”, comenta o presidente da APS. O prolongamento do prazo de pagamento das dívidas, no entanto, depende de negociação com os bancos. Cerca de 75% dos financiamentos para suinocultura são feitos pelo Banco do Brasil.
Perspectivas
Outra preocupação dos suinocultores é a possibilidade de faltar milho em 2004, devido à opção dos agricultores pela soja, em função da sua maior rentabilidade. O preço do milho vem se recuperando no Estado, vendido na semana passada entre R$ 15,30 a R$ 19,50 a saca. “Se o produtor de milho não tiver lucro, não teremos matéria-prima para transformar suínos e aves”, diz Wessler. “Precisamos um ponto de equilíbrio para que ganhe o produtor de milho, a indústria, o supermercado e o consumidor”. Para o presidente da APS, a cotação na faixa de R$ 18 seria ideal para o milho. De acordo com Leoclides Bisognin, vice-presidente técnico da APS, todo produtor deveria começar plantar o próprio milho. “Assim não teríamos o problema de abastecimento do grão”, frisa.
Assim como a questão do milho, as entidades suinícolas deverão levar para debates na Câmara Setorial de Milho, Sorgo, Aves e Suínos, a proposta de dificultar a instalação de grandes projetos. “Temos que achar um mecanismo de sustar investimentos”, afirma Wessler. Uma das formas seria o BNDES cortar financiamentos para o setor.
Enquanto esses assuntos prometem render muita discussão ainda, uma proposta para estimular o aumento do consumo de carne suína deverá ser implantada em breve no Paraná: a inserção do produto na Merenda Escolar. “É uma campanha diferenciada, para atingir o futuro consumidor. Queremos educar o hábito de consumo de carne suína, mostrando sua segurança e qualidade. Várias prefeituras já demonstraram interesse no projeto, que será apresentado também ao governo do Estado e à outras entidades”, revela o vice-presidente da APS, Romeu Royer.