Suinocultores projetam produção menor em 2004

A produção brasileira de suínos em 2004 deve apresentar queda de, pelo menos, 1,5%. Esse é o percentual de redução do plantel sugerido pelas associações estaduais dos produtores ao ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, em reunião realizada na semana passada. Cortar a produção tanto das integrações quanto dos autônomos foi uma das propostas apresentadas pelo setor, para enfrentar a redução das cotas da Rússia, principal mercado externo da carne suína brasileira. Com a mudança no sistema de cotas, o volume destinado à Rússia deve recuar de 313 mil toneladas (62% do total das exportações brasileiras em 2003) para 160 mil toneladas.

“Nossa sugestão é que os produtores baixem em 1,5% o abate para poder equilibrar a oferta”, comenta o presidente da Associação Paranaense de Suinocultores (APS), Irineu Wessler. No entanto, para o economista Gustavo Fanaya, do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do Paraná (Sindicarne), a redução teria que ser de, no mínimo, 10% “para a produção ser compatível com a demanda dos mercados interno e externo e haver garantia de preço”. Ele salienta que a definição das cotas de importação da Rússia foi “visivelmente uma manobra política para tirar o mercado brasileiro, pressionada pelos EUA e União Européia, que voltaram a ter excesso de produção”.

No ano passado, os abates de suínos com inspeção federal no Paraná – que representam cerca de 90% do volume abatido no Estado – totalizaram 3,733 milhões de toneladas, o que significa um crescimento de 7,6% sobre o resultado de 2002 (3,468 milhões de toneladas). Com 77.841 toneladas comercializadas no exterior, o Paraná fechou 2003 como o terceiro maior exportador de suínos do País, com 15,6% do total nacional – atrás de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A receita cambial das exportações paranaenses de carne suína foi de US$ 94 milhões, o que representou 16,9% do montante brasileiro.

A Rússia foi responsável por 65% das vendas de suínos do Paraná no ano passado, absorvendo 50.500 toneladas. O faturamento com essas operações foi de US$ 64 milhões, ou seja, 68% do valor exportado pelo Estado. Em 2002, o mercado russo representava 85% da quantidade de suínos comercializada pelo Paraná no exterior. O segundo maior mercado para o Paraná em 2003 foi Hong Kong, com 12,7 mil toneladas e receita de US$ 13,3 milhões. Em dois anos, a quantidade de países para os quais o Estado exporta suínos passou de doze para 43. “A experiência russa abriu muitas portas, mas os volumes ainda são pequenos”, destaca Fanaya. Entre os novos mercados conquistados pelo Estado, ele cita África do Sul e Cingapura.

“O Brasil está tentando abrir outros mercados, como o chinês e o japonês, mas é um caminho longo e complicado”, assinala o economista do Sindicarne. Apesar do avanço tímido, ele ressalta que os novos países ajudaram a compensar parte das perdas com a Rússia. “Em 2003, houve recuperação das compras na América Latina, principalmente no Uruguai e Argentina, que ficaram com 10 a 15% do volume exportado para a Rússia.”

Medidas

Além da redução nos abates, os representantes dos suinocultores pleitearam ao governo federal a liberação de recursos para financiar a estocagem de 150 mil toneladas de produto com taxa de juros de 8,75% ao ano. O ministro da Agricultura ainda não se manifestou, mas estuda a liberação de R$ 200 milhões para socorrer o setor.

Outra medida estudada pelos suinocultores é reduzir o peso dos animais abatidos durante 60 dias (de 110 para 85 quilos), visando diminuir a oferta de carne. Porém isso implica em redução do abono pela tipificação de carcaça, que passaria de R$ 8 a R$ 12 para R$ 3 a R$ 4. “Seria um sacrifício momentâneo para a crise não se prolongar”, afirma o presidente da APS.

Também preocupa os produtores a possibilidade de aumento do custo de produção, em função da elevação das cotações do farelo de soja e do milho, principais componentes da ração. Hoje, o custo nas granjas paranaenses varia de R$ 1,78 a R$ 1,82 o quilo, enquanto o suíno é comercializado entre R$ 1,85 a R$ 1,90.

Com o objetivo de ampliar o consumo de carne suína no mercado interno, a APS está realizando parcerias com prefeituras para introduzir o produto na merenda escolar. Em Dois Vizinhos, o projeto já está sendo colocado em prática, com distribuição de 10 mil gibis e 6 mil cartilhas sobre a qualidade da carne suína. Nos próximos 60 dias, será lançado em Marechal Cândido Rondon e Francisco Beltrão.

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