O setor sucroalcooleiro espera que a ex-senadora Marina Silva mantenha o discurso de Eduardo Campos se decidir – com o apoio do partido – ser a cabeça de chapa da candidatura do PSB à Presidência da República. “Campos fez defesas também em nome de Marina, então acreditamos que ela dará continuidade ao que estava sendo dito”, disse ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e também sócio-diretor da Canaplan, Luiz Carlos Corrêa Carvalho. Segundo ele, Campos, que morreu na queda do avião que o levava a Santos (SP) ontem, via o agronegócio como “plataforma para desenvolvimento do País”. A mesma avaliação é feita pelo presidente do Fórum Nacional Sucroenergético, André Rocha. “Não acredito que qualquer que seja o substituto, a própria Marina ou outra pessoa, irá rasgar o discurso que Eduardo Campos construiu nos últimos tempos”, afirmou. “Qualquer setor espera isso, e se ela (Marina) vier, terá de procurar interlocução.”
Caio Carvalho lembrou que, especificamente em relação à cadeia produtiva de açúcar e etanol, o ex-governador de Pernambuco pregava o crescimento da produção como meio de tornar a atividade mais rentável. “Acreditamos que os compromissos estão de pé. Na minha cabeça, ela (Marina) só tem chances se mantiver o discurso de Eduardo Campos”, comentou Corrêa Carvalho. Rocha, que lidera a única entidade sucroenergética com representação federal, ponderou que “ainda é cedo para especular qualquer coisa”. “Se ela for escolhida, passará a ser protagonista e só aí conseguiremos saber qual será o diálogo dela com o setor”, comentou.
Desde que ocupou o Ministério do Meio Ambiente no governo Luiz Inácio Lula da Silva Marina Silva enfrentou resistências no setor do agronegócio, em especial durante a discussão do Código Florestal. Eduardo Campos defendia sua candidata a vice e buscava uma reaproximação. Durante sabatina na sede da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), no dia 6, criticou o “ambiente de desentendimento” a partir da oposição entre produção agrícola e sustentabilidade. “É uma agenda que parece que quem está no campo está derrubando Mata Atlântica e defendendo trabalho escravo e sendo contra a reforma agrária. Esse ambiente não é de futuro”, disse.
O agronegócio via em Eduardo Campos uma alternativa para a eleição deste ano. Em abril, reportagem do Broadcast mostrou que o setor sucroenergético caminhava para assumir posição contrária à reeleição de Dilma Rousseff (PT). Na ocasião, Rocha disse que o setor tinha “simpatia” por Aécio e Campos. O apoio aberto à oposição veio em junho.
A cadeia produtiva de açúcar, etanol e eletricidade a partir da cana critica a política energética do atual governo. Os produtores dizem que os subsídios à gasolina retiram a competitividade do álcool, impactando na geração de caixa e, consequentemente, nos investimentos. De acordo com a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), no Centro-Sul do Brasil, que concentra a produção nacional, mais de 40 usinas fecharam as portas desde 2008, número que pode se aproximar dos 60 até o final da safra 2014/15.