Na contramão da alta concentração na indústria brasileira de suco de laranja, resumida a apenas três grandes companhias – Cutrale, Citrosuco e Louis Dreyfus Commodities -, o empresário Lair Antonio de Souza, aos 84 anos, investiu R$ 71 milhões e recriou a Sucorrico. Uma das duas unidades industriais da nova Sucorrico ressurge na mesma fábrica, às margens da via Anhanguera, em Araras (SP), onde já operou, de 1969 a 1974, antes de ser vendida para a Cutrale e, em seguida, sucateada.
Souza investiu R$ 51 milhões na reforma e reaparelhamento dessa planta processadora, cujo início da operação está previsto para agosto, com a capacidade de moer 3 milhões de caixas (40,8 quilos cada uma) de laranja por safra, todas de pomares próprios. E foi justamente a possibilidade de que esse volume de laranja apodrecesse no pé que levou o empresário, no ano passado, novamente ao mercado de suco de laranja.
“Para não perder aquela fruta, comprei uma pequena fábrica em Colina (SP), investi R$ 20 milhões e processei lá. Já tinha meus clientes antigos e dois ou três agentes (exportadores)”, disse. “Refiz os contatos, e resolvi voltar à produção com a retomada da Sucorrico”, afirmou Souza. Além da exportação, parte do suco da Sucorrico é ainda comercializada no mercado interno, com a marca Xandô, uma das maiores de leite tipo A do País, também de propriedade de Souza.
É a terceira vez que a Sucorrico volta a processar laranja. Além da nova operação com as duas unidades e da realizada na década de 70 do século passado, a companhia voltou a produzir entre 1995 e 2004. À época, Souza formou um grupo de 200 produtores de laranja, investiu US$ 45 milhões e construiu a até agora mais moderna fábrica do País de suco.
Entre o final de 2004 e o início de 2005, por estimados US$ 60 milhões à época, a fábrica, que fica ao lado da antiga, foi comprada pela Citrovita, do Grupo Votorantim, que mais tarde se uniu à Citrosuco, na maior fusão do setor. “Eu sempre acreditei nisso”, disse Souza, ao ser indagado sobre a insistência em ainda produzir a bebida em um setor tão concentrado. Souza avalia que esse é momento exato para voltar ao mercado.
“Agora a produção na Flórida (EUA) está ruim e todo o suco vai ser vendido”, disse, numa referência às perdas causadas pelo greening, maior praga da citricultura, no estado norte-americano, segundo maior produtor mundial, atrás apenas de São Paulo. Ele calcula que o custo médio da caixa de laranja está entre R$ 10 e R$ 11 e que a receita líquida obtida com a bebida processada e exportada está entre R$ 12 e R$ 14. Unicitros Brasil Não bastasse o retorno ao processamento da fruta, o empresário formou, juntamente com grande produtores de laranja, a Unicitros Brasil.
A associação de citricultores nasce com um capacidade de fornecer 40 milhões de caixas de laranja, ou cerca de 13% do total de 300 milhões de caixas que normalmente o parque citrícola comercial brasileiro produz anualmente. “A intenção é crescer e chegar a 80 milhões de caixas”, previu Souza.
A Unicitros procura atuar como um contraponto ao conflito à falta de consenso dos produtores de laranja, hoje sem uma representatividade definida e divididos em entidades como a Associação Brasileira de Citricultores (Associtrus), a Sociedade Rural Brasileira (SRB) e a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp). “Estavam deitando e rolando, os preços pagos ao produtor não eram remuneradores e partimos para a Unicitros”, concluiu.