Paris – O jornal francês Le Figaro disse em sua última edição que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está sendo "festejado" em Paris, apesar de se ver "enfraquecido" em Brasília, e que seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, não "engole" o "sucesso" do petista no exterior. Em várias reportagens, o diário parisiense relata a programação de Lula durante sua visita à França e os problemas que vem enfrentando no Brasil por causa das denúncias de corrupção envolvendo o PT.
Segundo o jornal, as acusações feitas pelo deputado Roberto Jefferson "sem nenhuma prova" lançaram um processo que fortaleceu uma idéia que "há apenas um mês seria considerada uma piada de mau gosto": a de que Lula pode não se candidatar à reeleição no ano que vem. "O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que não engole o sucesso de Lula no cenário internacional, achou por bem lhe aconselhar a não se candidatar para ter uma saída honrosa", diz o jornal.
Mas o Le Figaro também diz que pesquisas mostram que o presidente mantém sua popularidade e que os mercados financeiros seguem confiando no governo. "A mensagem é clara: o governo viaja, Antônio Palocci permanece no comando, os mercados financeiros podem ficar tranqüilos", diz o jornal em uma matéria a respeito da ausência do ministro da Economia na comitiva de Lula em Paris.
Em outra reportagem intitulada "Um Exército sem dinheiro nem estratégia", o Le Figaro também fala do estado das Forças Armadas brasileiras, convidadas para abrir o desfile do Dia da Bastilha em Paris. E o jornal publica ainda um texto do ministro da Cultura, Gilberto Gil, chamado "Pós-modernidade à brasileira", em que ele detalha sua visão do conceito de "glocalização" (a fusão do globalizado com o local) e explica por que o Brasil "apresentou, antes da Europa, uma resposta cultural à globalização".
Trinta meses
Outro jornal francês que dedica várias reportagens à visita de Lula é o Libération, segundo o qual o presidente continua sendo "um homem forte" apesar da crise política. "Lula, 30 meses e ainda lá", diz o jornal no título de sua reportagem principal sobre a visita, observando, em outro texto, que o presidente "deve ter reencontrado o sorriso" após ver a pesquisa que apontou um aumento de sua popularidade e foi divulgada nesta semana.
A popularidade de Lula se mantém graças aos programas sociais de seu governo, segundo o diário parisiense. "É entre seus partidários tradicionais, as classes médias urbanas e educadas, que o caso (do "mensalão") fez Lula perder terreno, enquanto sua popularidade segue intacta nas regiões rurais e pobres, onde a assistência social tem mais impacto", diz o jornal. Em um artigo de opinião, o editorialista Gérard Dupuy diz que, no caso das denúncias de que parlamentares teriam recebido dinheiro em troca de apoio ao governo, Lula foi "preso em um fluxo endêmico no Brasil cujas conseqüências sociais deploráveis ele mesmo havia denunciado".
"Se Lula decepcionou alguns de seus aliados, também desmentiu as previsões catastrofistas de seus adversários e mostrou que é difícil, mas não impossível, em um contexto sócio-econômico muito diferente da velha Europa social-democrata, ultrapassar a oposição ao realismo econômico e à redistribuição social", acredita Dupuy.