Uma pesquisa de autoria do professor paranaense Gilmar Antônio Nava, do curso de Tecnologia em Orticultura, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), campus Dois Vizinhos, no sudoeste do Paraná, indica que a utilização das substâncias cianamida hidrogenada e óleo mineral, acompanhadas da aplicação de ácido bórico, pode aumentar a produção de pêssegos da variedade granada. O estudo foi uma tese de doutorado realizado pelo professor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e levou dois anos para ser finalizado.
A ideia do projeto surgiu, segundo o professor, de observações realizadas em pessegueiros da localidade de Charqueadas, região da depressão central do Rio Grande do Sul. “A variedade granada é uma das mais cultivadas para a indústria. O fruto costuma ser de boa aparência e é saboroso. O problema é que o cultivo é muito irregular e, muitas vezes, a árvore não consegue segurar a fruta, pois a frutificação é muito instável”, revela.
Partindo dessa premissa, Nava começou os trabalhos e detectou que problemas genéticos e condições ambientais desfavoráveis prejudicavam a frutificação do pêssego granada. “Essa variedade necessita de pelo menos 300 horas de frio para poder desenvolver bem os frutos. Na região estudada, fazia menos frio do que o necessário. Isso gerou uma falta de sincronismo entre a matriz dos gametas da flor do pessegueiro, ou seja, o grão de pólen ficava maduro antes do desenvolvimento da flor, fazendo com que não houvesse a fecundação”, explica.
Para que essa situação fosse superada, veio a ideia de usar a cianimida com o óleo mineral acompanhados do ácido bórico. “A cianimida e óleo compensariam a falta de frio e atuariam no desenvolvimento do tubo polínico, ao passo que o ácido bórico auxiliaria a germinação do pólen. Os resultados obtidos foram excelentes, entretanto, ainda é cedo para saber se essa mistura irá ser eficiente em 100% dos casos, pois é preciso realizar mais testes, com outras condições de tempo e terreno, para se ter certeza de sua infalibilidade”, alerta.
O professor detectou com a pesquisa que as tentativas de se obter um pessegueiro geneticamente mais forte está contribuindo para que ocorra esse problema com a variedade granada. Ele diz também que o trabalho serviu como um puxão de orelha para quem tenta manipular a genética da planta. “Não adianta alterar os genes do pêssego e já sair plantando. Há a necessidade de realizar diversos testes antes de colocar a variedade no mercado. Essas plantas acabaram se revelando muito frágeis às condições climáticas, especialmente ao calor, que gerou todo esse processo de floração e frutificação, pois o óvulo e o pólen eram muito danificados nesse estado”, informa.
O objetivo do professor agora é de levar esse estudo para ser aplicado no Paraná, mais especificamente no sudoeste do estado. “Pretendo seguir adiante estudando a variedade e verificando também a eficácia dos compostos para ver se ele será funcional em outras condições ambientais. Contudo, para essa pesquisa precisaria ir mais a fundo, pois quero ampliar os leques de possibilidade para o pêssego granada”, conclui.
Sxc.hu |
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Fruto costuma ser de boa aparência e bastante saboroso. |
Paraná é o quarto maior produtor do País
De acordo com informações do engenheiro agrônomo da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab), Paulo Andrade, o Paraná ocupa a quarta coloca&,ccedil;ão na produção nacional de pêssego, atrás apenas do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo, com um volume de 18 a 20 mil toneladas por ano, o que corresponde a cerca de 10% do total da produção nacional, que gira em torno de 200 mil toneladas por ano.
A maior parte da produção é voltada para o mercado interno e utilizada tanto para consumo in natura quanto processado (enlatados, em sua grande maioria).
A cidade da Lapa, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), é a principal produtora do Estado. A RMC é responsável por 43% de todo o fruto produzido no Paraná.
A área plantada, que no início do ano 2000 chegou a ser de 1,9 mil hectares, hoje está em aproximadamente 1,6 mil hectares. “A diminuição dessa área está relacionada à questão climática e a perecibilidade da fruta. Isso fez com que os produtores diminuíssem o espaço plantado ou mesmo abdicassem da cultura”, revela Andrade.
Apesar dos contratempos, o engenheiro agrônomo garante que a atividade vale a pena, ainda que exija um certo cuidado.
“Para trabalhar com o pêssego, o fruticultor precisa de estrutura, uma vez que a cultura é exigente e, em regiões que costumam ocorrer geadas, a atenção deve ser redobrada.
Por outro lado, quem trabalha com esse fruto acaba gostando, principalmente o agricultor familiar, pois ajuda na diversidade da propriedade e ainda consegue um bom preço no mercado, por volta de R$ 3.600 por hectare”, diz.