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Lula com Bush: pouco caso para o biocombustível. |
Em seu discurso na reunião dos chefes de Estado do G8 (grupo dos países mais ricos do mundo) e dos seis países em desenvolvimento convidados, ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfatizou que ?os países mais pobres não necessitam de favores?, mas de condições mais eqüitativas para competirem na área agrícola.
Os subsídios industriais, insistiu Lula, estão proibidos há décadas. Enquanto isso, as subvenções concedidas à agricultura somam US$ 1 bilhão por dia e 900 milhões de pessoas nas áreas rurais dos países em desenvolvimento vivem com menos de US$ 1 por dia. ?O patamar atual dos subsídios é excessivo, ilegal e desumano. Os dispêndios efetivos com subsídios agrícolas têm de cair de forma substancial. Enfatizo a palavra efetivo, que já constou da Declaração Ministerial de Hong Kong (dezembro de 2005)?, declarou.
Lula lembrou, ainda, a seus ?colegas?, como se referiu aos outros 12 chefes de Estado presentes em São Petersburgo, na Rússia, que a Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) foi lançada logo depois de 11 de setembro de 2001, como forma de a comunidade internacional juntar forças contra o terrorismo e suas causas – miséria, doença e desesperança. Trata-se da primeira rodada de ?desenvolvimento?.
?É totalmente falacioso – além de injusto – o argumento de que os avanços na área agrícola devem ser viabilizados pelas concessões dos países pobres?, afirmou Lula, acrescentando que serão ?pouquíssimos? os países em desenvolvimento que sofrerão cortes efetivos de tarifas industriais, mas que a participação desse grupo é relativamente pequena e não chegará a ?fechar o hiato entre as posições sobre agricultura dos países mais ricos?.
Combustíveis alternativos
O presidente Lula propôs ao presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, uma parceira entre os dois países na produção de combustíveis renováveis. Diante da imprensa, pouco antes de iniciar seu encontro reservado com o presidente norte-americano, Lula entregou a Bush uma pasta com as informações sobre a produção brasileira de biodiesel e a tecnologia do H-Bio. ?Isso é quase um convite para uma grande parceria?, insistiu.
Bush deixou-se fotografar segurando a pasta, que trazia a imagem de um detalhe da bandeira brasileira. Mas nada respondeu. Pouco antes, havia lembrado que o Brasil é um ?líder na discussão sobre fontes renováveis de energia? e que estava interessado em escutar a opinião de Lula sobre o tema.
A questão da segurança energética foi o principal tópico da reunião do G8, domingo, em São Petersburgo, e deverá ser retomada no encontro ampliado do G8 com os chefes de Estado dos seis países em desenvolvimento convidados (Brasil, África do Sul, Índia, China, México e Congo).
O tema ganhou força com a elevação da tensão no Oriente Médio, que pode levar a um aumento ainda maior nos preços internacionais do petróleo. Nessa questão, um dos tópicos debatidos foi justamente o impulso aos combustíveis renováveis.
Frustração
O presidente Lula também acumulou frustração na forma como foi tratada a questão do biocombustível na reunião de cúpula do G8 e das seis economias em desenvolvimento, o G8+6. A proposta perdeu-se nas entrelinhas do documento adicional dos 13 líderes.
O relator do encontro, Sergey Prikhodko, deixou claro em seu parecer que houve respaldo na implementação do plano de ação definido no dia anterior, exclusivamente pelo G8 (os sete países mais industrializados do mundo, somados à Rússia), e indicou que o grupo prefere a energia nuclear como alternativa. Nenhum destaque especial foi dado aos combustíveis renováveis tão caros ao governo brasileiro.
Microfone aberto capta as gafes do presidente Bush
São Petersburgo (AE) – Não era para ser ouvido. Um bate-papo privado na hora do almoço entre líderes mundiais foi captado por um microfone e o que se ouviu não foram só assuntos importantes, mas também banalidades – incluindo palavrões do presidente George W.Bush a propósito dos ataques do Hezbollah contra Israel.
Em conversa com o primeiro-ministro Tony Blair, da Grã-Bretanha, durante almoço de encerramento da reunião de cúpula do Grupo dos Oito (G8, composto por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália, Japão e Rússia), Bush falou da sua frustração com as Nações Unidas e indignação com o grupo militante islâmico e seus defensores na Síria.
?O irônico é que eles precisam conseguir que a Síria faça o Hezbollah parar com essa m…, e aí acaba?, dizia Bush a Tony Blair, mastigando um enrolado.
Bush comentava com Blair sua conversa com o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, em visita aos líderes reunidos em São Petersburgo.
Bush teria dito a Annan para telefonar ao presidente sírio Bashar Assad para ?fazer alguma coisa acontecer?. Bush sugeriu que a Secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, poderia em breve visitar a região.
Os comentários ao vivo do presidente foram ouvidos quando os líderes posavam para uma foto durante o almoço. Ninguém percebeu que o microfone estava ligado.
Bush conversou também com outros líderes, comentando desde assuntos sérios, como a escalada da violência no Oriente Médio, até banalidades, como sua preferência por Coca-Cola diet e o presente que havia recebido.
Blair, cujas observações não foram ouvidas com nitidez, parecia estar insistindo com Bush quanto ao envio de uma força internacional de manutenção da paz para a região.
Ao falar com o presidente russo Vladimir Putin, Bush ficou surpreso que Putin e um outro líder levariam oito horas para chegar à capital russa, o mesmo tempo de vôo de Bush para Wa-shington. A resposta de Putin não foi captada.
?Oito horas? Eu também. A Rússia é um grande país, vocês estão em um grande país. É preciso oito horas para voltar para casa. Não, Coca-Cola não. Coca diet… A Rússia é grande e a China também. E você, Blair, o que vai fazer? Vai embora?, comentou Bush.
Bush agradeceu pelo suéter que recebeu de Blair e gracejou, dizendo que sabia que ele escolhera pessoalmente o presente. ?Certamente?, respondeu Blair, com uma gargalhada.
Bush, que é maníaco por horários, comentou também: ?Vamos agilizar um pouco as coisas. Preciso sair às 2h15. Querem que eu saia para liberar as forças de segurança?.
Bush disse ainda que alguns oradores no encontro falavam demais.