O estilo “brigão” do presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Benjamin Steinbruch, voltou a ganhar a cena na última quinta-feira, dia 24, em reunião da diretoria da empresa com analistas de mercado, após a publicação do balanço do terceiro trimestre que mostrou resultados ruins.

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No encontro, Steinbruch soltou o verbo contra o demonstrativo financeiro, cobrou em público um de seus diretores, abusou da ironia e novamente fez promessas. Elas têm sido recorrentes ao longo dos últimos anos, desde que a companhia ampliou seu endividamento, o que acendeu o sinal amarelo sobre sua saúde financeira. Dessa vez, a promessa de Steinbruch foi sobre a eventual venda de uma fatia minoritária de 8% da mina de Casa de Pedra para diminuir dívidas.

A CSN registrou um prejuízo líquido de R$ 871 milhões no terceiro trimestre de 2019, resultado que representou uma reversão frente ao lucro de R$ 752 milhões no mesmo período de 2018. O prejuízo surpreendeu analistas do setor, que haviam estimado um lucro de R$ 178 milhões no período, de acordo com a média das projeções de seis instituições financeiras consultadas pelo Broadcast (BB-BI, BTG Pactual, JPMorgan, Safra Santander e XP Investimentos).

A companhia sofreu com o quadro anêmico de recuperação da economia brasileira, com a variação cambial e com o efeito da atualização “de ações a valor justo”. O investimento na Usiminas contribuiu para esse ajuste. A CSN possui cerca de 15% das ações ordinárias da concorrente e 20% das preferenciais.

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Trimestralmente a CSN realiza, como de praxe entre as companhias de capital aberto, teleconferência para comentar os resultados. Na quinta-feira, 24, contudo, a reunião foi presencial e exclusiva para analistas. Aqueles que não puderam estar presentes, assim como jornalistas, acompanharam pelo telefone. Como o mercado, no fim do dia, é soberano, as ações refletiram o resultado e no dia caíram cerca de 7%, fazendo a empresa perder R$ 1,276 bilhão em valor de mercado.

Desde a divulgação dos resultados do terceiro trimestre, analistas estão divulgando suas análises que, no geral, refletiram preocupação em relação ao endividamento da empresa. “Dívida elevada teimosa”, disse o Citi. O BTG Pactual foi além e reconheceu se frustrar com o resultado, o que provocou uma redução da recomendação da ação da siderúrgica pela instituição financeira. “A CSN relatou um conjunto decepcionante de resultados sob vários ângulos, embora as expectativas para o trimestre fossem reconhecidamente muito baixas”, destacou o banco em documento, assinado pelo analista Leonardo Correa.

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A queda da “nota” da ação da CSN fez com que Steinbruch “agradecesse” o “downgrading”, assim que Correa fez uma pergunta ao empresário na reunião. Antes, Steinbruch já tinha dito que não queria parecer um “ET”, mas que, do seu ponto de vista, os resultados da CSN tinham sido “bastante bons”, apenas afetados por algumas questões pontuais “auto explicáveis”, como a variação de câmbio e a reforma do alto-forno da empresa em Volta Redonda (RJ).

Acidez. O analista não foi o único sob a artilharia de Steinbruch. O diretor executivo comercial da empresa, Luis Fernando Martinez, também foi alvo, depois de a unidade de siderurgia apresentar resultados muito ruins no trimestre. Steinbruch cobrou que o estoque da empresa esteja zerado no fim do ano e, quando Martinez disse a analistas que haveria melhora dos números nos próximos meses, tendo uma das razões a retomada de operação do forno, Steinbruch ironizou e disse que o executivo será a “Fênix, ressurgindo das cinzas”. Logo depois de Martinez dizer que teve de comprar produtos de concorrentes, já que seu forno estava parado, Steinbruch não perdoou: “Não é só Fênix, mas Papai Noel também”.

As agências de classificação de risco também não foram poupadas. O presidente da CSN disse que elas são rápidas para cortar o rating, mas lentas para subir. Afirmou ainda que estão atrasadas sobre a situação da CSN.

A alavancagem da siderúrgica, importante indicador do nível de endividamento de uma empresa, subiu no terceiro trimestre, depois de um período em queda. A venda de ativos é hoje a maior cobrança do mercado para acelerar a redução da dívida, mas até aqui pouca coisa foi feita. Steinbruch destaca que as vendas serão realizadas, mas apenas no “preço certo”, ou melhor, no preço em que ele acreditar ser justo. No mercado se comenta que Steinbruch tem perfil de comprar ativos, mas não é nada afeito a vendê-los.

“Não concordo, mas comprei essa tese do mercado de desalavancar”, disse a analistas. Steinbruch lembrou que fez seu histórico como empresário de forma alavancada. Foi assim que levou a CSN anos atrás em seu leilão de privatização, em 1993. “Comecei devendo tudo”, disse. No entanto, afirmou que hoje está com 66 anos e não quer morrer endividado. “E também não quero morrer”.

Diante das críticas e cobranças, Steinbruch dobrou a aposta. Não só reafirmou o objetivo de chegar até o fim deste ano com uma alavancagem de 3 vezes, mas atingir 2 vezes no ano que vem.

Além disso, mesmo cobrado pela demora em vender ativos, o empresário afirmou que uma fatia minoritária de 8% da unidade de mineração da empresa está “disponível para ser vendida” se for necessário para a entrega da redução da dívida. “É um desejo meu. Se tiver de vender 8% da mineração para resolver questões da companhia, venderei. Quero ter a tranquilidade dos anjos. Mas tem que chegar o momento certo. É questão de oportunidade”, afirmou.

Sobre outras vendas, o presidente da CSN disse que a unidade na Alemanha está em fase final de negociações com um comprador e “depende de preço”. Steinbruch afirmou ainda que está “louco” para vender a participação que a CSN detém na Usiminas, mas que isso também depende de preço.

No mercado, entre grupos de analistas, bancos e concorrentes, a percepção é quase um consenso: de ceticismo em relação à venda de ativos.