A diretora-gerente de ratings soberanos da Standard & Poor’s (S&P), Lisa Schineller, afirmou que não vê uma entrega de políticas econômicas de forma consistente por parte do governo brasileiro. Durante conferência pela internet, em diversos momentos ela citou a revisão nas metas de superávit primário, além das dificuldades nas negociações com o Congresso.

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Lisa comentou que vai ser difícil o governo adotar medidas significativas de cortes de gastos devido justamente ao clima político em Brasília, além da rigidez na estrutura do Orçamento. “A forte queda nas receitas é uma das causas da inabilidade de atingir as metas fiscais, em função do contexto econômico, e aumenta o desafio de lidar com a rigidez estrutural no médio prazo. Os membros da equipe econômica estão comprometidos com isso, mas, dado o contexto político, vemos muitos riscos para que isso seja executado”, afirmou.

Lisa explicou que a S&P prevê três anos seguidos de resultado primário negativo (a partir de 2014) e que mesmo assim existem riscos para o cumprimento das metas estabelecidas pelo governo. “Nós esperamos uma resposta lenta em direção à construção de um superávit primário, com uma lenta retomada do crescimento, mas temos de ver como as coisas vão progredir no Congresso”, disse.

Ela afirmou ainda que, se o contexto fosse diferente, as medidas mais estruturais anunciadas pelo governo no primeiro semestre (como a mudança nas regras de pensão por morte e seguro-desemprego) poderiam ter melhorado o sentimento em relação ao Brasil. O mesmo poderia ter sido observado com o programa de concessões em infraestrutura, mas os desdobramentos da operação Lava Jato, da Polícia Federal, e o desempenho muito ruim da atividade econômica acabaram impedindo isso.

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“A capacidade de executar as políticas econômicas e fortalecer as perspectivas de crescimento é o que afeta o rating, e nós vemos uma capacidade menor de fazer isso hoje do que antes”, afirmou Lisa. Mesmo assim, a diretora ressaltou que a S&P não fala em nenhum momento sobre um risco de solvência do Brasil.

Ela também foi questionada sobre o espaço muito curto entre a atribuição de uma perspectiva negativa para o rating brasileiro, em 28 de julho, e o corte da nota, em 9 de setembro. Lisa reconheceu que o intervalo foi rápido, mas disse que a agência já tomou medidas semelhantes em prazos ainda menores antes. “Houve uma mudança importante em termos de para onde a trajetória fiscal deve se mover nos próximos anos. Nós havíamos pressuposto metas fiscais mais fracas, mas considerando que haveria uma solução”, admitiu.

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Lisa ainda apontou que, geralmente, em ratings no grau especulativo, uma decisão após a atribuição de uma perspectiva (negativa ou positiva) ocorre dentro de um ano, mas deixou claro que não existe nenhum prazo predeterminado para uma nova decisão sobre a nota do Brasil.