Mais do que conhecer o novo ministro da Fazenda e a nova equipe econômica do próximo governo de Dilma Rousseff, será importante ver os sinais sobre as políticas que serão adotadas nos próximos anos e a efetiva execução dessas políticas. A avaliação é da diretora-gerente de ratings soberanos da Standard & Poor´s, Lisa Schineller, que concedeu entrevista exclusiva ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado. A S&P classifica a nota soberana do Brasil como BBB-, o mais baixo nível da categoria grau de investimento, com perspectiva estável.

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“A gente já imaginava que a equipe mudaria, então o fator-chave é saber as políticas que estão por vir”, afirmou. “Até porque o novo time pode ser muito bem um passo para trás e por isso olharemos para o pacote todo, formado por time, políticas e execução”, disse.

A diretora da S&P não quis comentar qual seria o perfil ideal do novo ministro da Fazenda, que ocupará o lugar de Guido Mantega, mas que ele deverá reverter a falta de confiança na macroeconomia.”Ortodoxo ou não ortodoxo, ele precisará gerar credibilidade no setor privado para conseguir aumentar os investimentos”, afirmou.

Aliás, Lisa voltou a ressaltar que um dos maiores desafios do Brasil será restaurar a credibilidade. “Não é uma tarefa fácil para o governo restaurar a credibilidade”, avalia. Mas ao falar sobre quais seriam os passos que já poderiam ser dados nessa direção ainda este ano, Lisa cita os combustíveis: “Um aumento dos preços de combustíveis pela Petrobras é algo já esperado para depois das eleições”.

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Além disso, a diretora diz que o governo pode começar a discutir agora o Orçamento para 2015 e assim dar sinais sobre suas “intenções na política fiscal”. “Dilma não precisa esperar e pode começar a trabalhar nos sinais sobre política fiscal hoje”. Segundo ela, o desafio de crescimento de longo prazo do Brasil e que afetam o custo Brasil envolvem o regime tributário e infraestrutura.

Sobre política monetária, Lisa afirma que o Banco Central terá como um dos desafios à frente lidar com a mudança de política monetária do Federal Reserve, com normalização dos juros, que deve trazer mais volatilidade ao fluxo global de capitais. Ela citou ainda a volatilidade geopolítica global e lembrou que no cenário doméstico há o crescimento baixo, a inflação ainda elevada e a expectativa de reajuste de preços, como os de combustíveis e de energia elétrica.

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“Há mais volatilidade nos mercados hoje. E todos esses fatores mencionados deverão ser considerados pelo BC ao tomar decisões de política monetária”, disse Lisa, ressaltando ainda que a formação da nova equipe econômica, os sinais de mudanças no lado fiscal e execução das políticas devem afetar as expectativas de inflação daqui para frente.

Bancos estatais

Ao falar sobre a necessidade de o Brasil melhorar sua política fiscal, a diretora-gerente de ratings soberanos da Standard & Poor’s, Lisa Schineller, ressaltou que a deterioração fiscal no Brasil também se deve ao aumento do uso dos financiamentos dos bancos estatais, como o BNDES, na gestão petista. Segundo ela, o papel maior dos bancos estatais na economia brasileira ainda é “uma fraqueza na política fiscal”. “Reduzir os recursos dos bancos estatais ajudaria a fortalecer a política fiscal e aumentar a credibilidade”, avaliou Lisa, em entrevista exclusiva ao Broadcastm, serviço em tempo real da Agência Estado.

Em relação ao rating brasileiro, Lisa não sinalizou que exista um risco iminente de o País ser rebaixado, lembrando que a perspectiva da nota de crédito BBB- do rating soberano brasileira é “estável”. “Significa que temos até dois anos para fazer alguma mudança, mas não quer dizer que não possamos fazer antes”, explica.

Lisa disse que antes de avaliar os riscos do Brasil, a S&P deve aguardar para ver a formação da nova equipe econômica, os sinais das novas políticas que serão adotadas e “dependendo” desses sinais, esperar também para ver o governo colocá-las em prática.

Corrupção

Sobre as denúncias de corrupção na Petrobras, Lisa explicou que o fator em si não levaria o País a sofrer um rebaixamento de rating soberano, mas que pode ter efeitos indiretos. Segundo ela, as denúncias de corrupção “sem dúvida tem potencial para complicar” os avanços do governo na articulação política no Congresso, por exemplo e atrapalhar o caminho do novo governo. Lisa ressaltou que é fundamental para o governo trabalhar daqui para frente com aliados e formar uma coalização que o ajude a passar seus projetos no Congresso.