Para Victor Pelaez, professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o cultivo da soja transgênica não traz nenhuma vantagem para o agricultor e ainda pode representar riscos econômicos e ambientais, além de danos para a saúde. Segundo ele, o processo de regulamentação de transgênicos nos Estados Unidos “é frágil devido à falta de mão-de-obra qualificada, verbas para pesquisas e também de transparência, porque a sociedade não tem acesso aos estudos”.

Há seis meses, Pelaez desenvolve vários estudos sobre transgênicos e as informações utilizadas são principalmente de trabalhos de universidades americanas. No artigo intitulado “Soja transgênica vs. soja convencional: uma análise comparativa de custos e benefícios”, o professor defende que o consumo de herbicidas na cultura de soja transgênica tende a ser superior ao da soja convencional e que a produtividade da soja convencional mostrou-se 12% superior à da transgênica.

Além disso, a introdução de sistemas de certificação e de rastreabilidade da soja convencional tendem a inflacionar o mercado na medida em que força a adoção de novas práticas de manejo e de controle das safras que incorrem em custos adicionais repassados aos consumidores.

“Os principais mercados consumidores de soja – Europa e Japão – têm-se mostrado relutantes em consumir produtos geneticamente modificados, dando preferência à soja convencional. Esses mercados estariam dispostos a pagar mais pela soja convencional, desde que o produto seja acompanhado de certificação de pureza”, afirmou Pelaez.

Estudos

Outro ponto que o professor enfatiza é que ainda não é possível afirmar com certeza que os transgênicos são seguros ou vantajosos para o produtor. “As análises comparativas de desempenho técnico e econômico entre as culturas de soja convencional e transgênica não têm apresentado ainda dados conclusivos que possam confirmar a superioridade de uma tecnologia de melhoramento genético sobre a outra”, afirmou.

Isso acontece porque todas as comparações existentes baseiam-se em uma análise estática, que retrata apenas o desempenho das safras de 1997 e 1998 nos EUA. Esse estudo não teve continuidade nos anos seguintes. Além disso, segundo Pelaez, “o desempenho dessa nova tecnologia depende do contínuo desenvolvimento e da adoção de cultivares adaptadas às especificidades de solo e clima das diferentes regiões produtoras”.

Custos

Em seu estudo, Pelaez apontou os Estados Unidos, Brasil e Argentina como os principais produtores de soja do mundo, mas afirmou que a estrutura de produção é diferente nos três países devido às diferenças de clima, fertilidade do solo, tecnologia e custo da terra.

A competitividade da soja brasileira baseia-se fundamentalmente no baixo custo da terra e na menor incidência de impostos, já que o Brasil precisa usar mais fertilizantes em função da baixa fertilidade do solo, principalmente no Mato Grosso, e os juros pagos no Brasil são até sete vezes superiores aos cobrados nos Estados Unidos. “Essas vantagens de custo fazem com que a soja produzida no Brasil apresente custos de produção de 27% a 31% menores em relação aos Estados Unidos, e de 13,5% a 18,5% menores em relação à Argentina”, contatou Pelaez.

Ainda segundo o artigo, no Brasil um dos principais fatores para o aumento da produtividade da soja foram as pesquisas realizadas pela Embrapa para a fixação do nitrogênio, por meio da associação simbiótica com a bactéria Rhizobium. “Com a germinação da semente, a bactéria fixa-se nas suas raízes extraindo nitrogênio do ar transferindo-o para a planta”, explicou. No entanto, com a substituição da semente tradicional por transgênica, é possível que ocorra a perda da produtividade associada à alteração desse processo.

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