Só mais renda familiar pode sustentar economia

O professor Dércio Munhoz, da Universidade de Brasília, ex-presidente do Conselho Federal de Economia e coordenador do programa de governo do ex-presidente Tancredo Neves, defendeu a recuperação da renda das famílias como forma de criar demanda para provocar o crescimento sólido da economia brasileira.

Munhoz proferiu palestra sobre alternativas de política econômica durante reunião do secretariado ontem, a convite do governador Roberto Requião. Para o economista, só o crescimento das exportações não sustenta a demanda, que precisa ser criada para elevar consumo e renda no País. “Assim como os pássaros não voam sem asas, a economia sem renda das famílias não funciona”, comparou.

De acordo com o economista, há muitos anos que a renda familiar e os investimentos públicos e privados, que formam o capital bruto da economia, estão estagnados. O crescimento tímido recente foi motivado pelas exportações, fonte atual que está empurrando a economia, e já demonstra desaceleração.

Munhoz defendeu um rompimento com essa situação através da discussão de alternativas de política econômica para o País, que até agora não foi apresentada pelo atual governo. “O governo federal foi temeroso e seguiu a linha do Fundo Monetário Internacional (FMI), sem testar os limites de até onde poderia ir”, salientou. Para o professor, a atual política só focaliza o acompanhamento das taxas de juros Selic, segue a orientação do FMI e mantém a preocupação com o controle do superávit primário, com o objetivo de manter a capacidade de pagamento dos juros da dívida externa.

O efeito dessa situação, diz, é que a renda familiar está parada há muito tempo, com a queda no poder aquisitivo dos salários e aumento da carga tributária. “As exportações que mantêm um quadro favorável para a economia podem ser uma ilusão. Elas não têm força para superar a contínua perda salarial e só uma ação governamental poderia mudar esse panorama.” Munhoz defendeu a necessidade urgente de o governo federal dar um empurrão clássico na situação, deflagrando um processo de investimentos públicos.

Para compensar a falta de renda, as famílias estão gastando a poupança construída ao longo dos anos. Segundo Munhoz, atualmente somente as famílias com renda superior a R$ 3 mil conseguem manter um padrão de consumo. “Abaixo disso, as famílias estão gastando mais do que recebem e, para manter o equilíbrio, estão consumindo patrimônios antigos. Mas até essa gordura está acabando”, avisou. O economista defendeu a adoção de políticas que induzam as famílias a voltarem para as feiras e o mercado.

Para Munhoz, o investimento público em infra-estrutura é fundamental para gerar emprego e renda. Ele disse que não entende que um país que criou uma dívida global (interna e externa) de US$ 380 bilhões para manter o Plano Real, não possa gastar US$ 12 bilhões para sustentar investimentos em infra-estrutura, sem necessidade de recorrer às Parcerias Público-Privadas (PPPs), projeto criticado pelo economista.

Munhoz alertou para o risco das PPPs, de serem criados verdadeiros cartórios para a iniciativa privada, que pode investir em qualquer setor, com garantia de retorno. “É o capitalismo sem risco”, explicou. O economista destacou que, da forma como o projeto está sendo apresentado no Congresso, a iniciativa privada pode ganhar a prerrogativa de até receber impostos no lugar do governo.

O economista criticou a falta de planejamento econômico para o País, uma das causas da atual estagnação. Ele disse que o governo precisa agir por antecipação e que o Ministério do Planejamento deveria ter como missão iluminar o caminho para futuras estratégias, criando facilidades para o crescimento econômico. “Ao contrário da situação atual, que privilegia uma visão financista, com uma administração de curto prazo com viés financeiro que não leva à nada, só a espasmos”, destacou.

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