Às vésperas de promover o Dia Nacional de Lutas, programado para quinta-feira, 11, a maioria das centrais sindicais se mostrou contrária à participação de membros do Partido dos Trabalhadores (PT) no ato. Na última sexta-feira, 05, a presidente municipal do PT em São Paulo, vereadora Juliana Cardoso, convocou a militância do partido para uma mobilização no dia 11, em defesa da reforma política e do plebiscito, propostas defendidas pela presidente Dilma Rousseff. O ato será na Avenida Paulista, em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp), a partir das 14h. No mesmo dia, as centrais sindicais pretendem fazer uma grande concentração no mesmo local, a partir do meio dia.
O presidente da Força Sindical, deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho, disse mais cedo que o PT tenta se aproveitar dos atos programados pelas centrais para desviar a atenção da pauta trabalhista, que não incluem a reforma política e o plebiscito. “As manifestações são por uma pauta específica e antiga. O PT pegou carona nisso para tentar enfiar uma espécie de contrabando e nós não aceitamos”, disse.
Para Paulinho, “não tem defesa da Dilma (nos atos das centrais). Até porque eu acho que as manifestações são contra ela e ela não percebeu. Isso vai acirrar os ânimos. No nosso meio, que até estava tranquilo, agora vão aparecer muitas plaquinhas de fora Dilma”. Ele afirmou que, para evitar confusão, assim que terminar de falar no ato da Paulista vai “mandar o nosso povo embora”.
O secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, disse que a entidade já tinha deixado claro ser contra transformar as reivindicações em um ato pró-governo. “Nós não estamos apoiando Dilma. O PT tem que entender que ele é governo e os trabalhadores estão na oposição.”
Questionado sobre a ideia do PT em chamar manifestações para o mesmo dia e local das centrais, o presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, também teceu críticas. “Essa paralisação não é dos partidos políticos, mas das centrais sindicais e dos movimentos sociais.”
O secretário executivo nacional da CSP-Conlutas, José Maria de Almeida, o Zé Maria, que também preside o PSTU, afirmou que as manifestações das centrais têm uma pauta de reivindicações própria, que não incluem, neste momento, a reforma política e o plebiscito. “Esse é um ato contra o governo”, afirmou. “Quero ver quem vai pegar o microfone para defender a presidente Dilma no protesto”, desafiou. Zé Maria, no entanto, disse que não deve haver hostilidades contra eventuais manifestações partidárias favoráveis ao governo. “Mas vai haver vaia bem grande.”
Zé Maria ponderou que a participação de partidos não será mal vista. “Todos que quiserem apoiar a greve e as reivindicações são bem-vindos.” De acordo com ele, seu partido, o PSTU, participará do ato.
O presidente da Central Geral dos Trabalhadores Brasileiros (CGTB), Ubiraci Oliveira, criticou o fato de o PT tentar trazer sua pauta para as manifestações. “Os partidos têm direito de ter posição, o que não pode é querer pegar carona”, disse. “(Os militantes do PT) não podem querer colocar na pauta o que não é o centro da pauta de reivindicações. Considero que essa questão (da reforma política e plebiscito) é secundária.”
O presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Wagner Gomes, disse não ver problema em o PT chamar uma manifestação para o mesmo dia. Ele ponderou que as centrais têm as suas reivindicações e o PT as dele. “A Avenida Paulista não tem dono. A diferença é que há uma pauta das centrais e outra dos partidos. Não vamos criticar nem taxar de oportunistas.”
Procurada, a executiva nacional do PT, presidida pelo deputado estadual Rui Falcão, disse que ele não iria se manifestar. O PT estadual, presidido pelo deputado Edinho Silva, também preferiu não se pronunciar. A presidente do PT municipal, Juliana Cardoso, que chamou a passeata petista, não respondeu às ligações até o fechamento desta reportagem.
Defesa
Para o presidente da CUT-SP, Adi dos Santos Lima, a participação de membros do PT é natural. “Assim como do PC do B e outros partidos. Qualquer sigla que estiver com as mesmas bandeiras é natural que participe.” Adi reafirmou o apoio da CUT à presidente. “Claro que não apoiaremos (um suposto movimento pedindo a saída da Dilma). Somos a favor do fortalecimento da democracia, mas a CUT apoia a Dilma e o prefeito (Fernando) Haddad”, reforçou.
Paulinho, porém, fez questão de ressaltar que a presidente “não tem mais nada a ver com os trabalhadores”. “Não estamos falando do governo Lula, que tinha uma relação diferente. Foi o governo Dilma que nos abandonou”, reforçou.
O presidente da Força ponderou que a opinião diferente da CUT não significa um racha nas centrais. “Eu acho que não, porque nossa pauta é clara, temos uma pauta comum”, disse, ressaltando esperar que “nas manifestações pró-governo que alguns vão fazer, eles lembrem que têm uma pauta.”
Segundo Adi, da CUT-SP, ele ainda não conversou com dirigentes do PT sobre o ato do partido no dia 11 e não sabe exatamente o que colocarão no debate, mas defendeu a bandeira da reforma política. “Esse ponto (da reforma política) foi comum entre as centrais”, afirmou.