Setores de siderurgia e petróleo sentem escassez de qualificação

 A Vale inicia no sábado a primeira campanha global de recrutamento de funcionários feita por uma empresa brasileira. Serão arregimentados profissionais simultaneamente no Brasil, Estados Unidos, Inglaterra, Austrália e Canadá para uma previsão de 62 mil contratações em cinco anos. A iniciativa expõe um aquecimento que ultrapassou o segmento de preços de minérios e commodities e chega com força ao mercado de trabalho dos setores siderúrgico, mineração e petróleo.

No Brasil, a escassa mão-de-obra qualificada está sendo disputada ostensiva e agressivamente pelas empresas dos três setores. Há um mês, por exemplo, um ônibus da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), empresa que só começa a operar no ano que vem, aporta diariamente em Volta Redonda, onde fica a sede da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). De lá, o veículo sai lotado de ex-funcionários da CSN, que viajam duas horas para treinamento em Santa Cruz, onde ficará a sede da futura siderúrgica, que terá capacidade inicial de produção de 5 milhões de toneladas de placas de aço.

Todos ainda farão um treinamento de dois meses na Alemanha, sede da Thyssen, sócia majoritária do projeto. "Já dá para me virar em alemão, como pedir comida em um restaurante", conta Hércules Bastos, de 43 anos, que foi contratado para ser supervisor de alto forno da CSA. Na CSN, onde trabalhou por 22 anos, ele era operador. Ele já fez um curso intensivo de alemão custeado pela nova empregadora. A Vale, que iniciou uma maratona de contratações, também tem de se esforçar para manter os funcionários livres do assédio de concorrentes. Nem sempre consegue.

Em Carajás, no Pará, onde fica a principal jazida de minério de ferro da companhia, mineradoras rivais, como BHP e Rio Tinto, publicam anúncios em inglês em busca de funcionários qualificados. "Os anúncios aparecem de todos os lados, dos Estados Unidos à Austrália", diz a diretora de planejamento de RH da Vale, Maria Gurgel. "Mas nós também estamos recrutando profissionais na Austrália. É o reflexo da empresa globalizada", brinca.

Toda essa procura está inflacionando salários num mercado de trabalho carente de qualificação. Um soldador, cargo de nível técnico disputado pelos três segmentos com maior demanda de mão-de-obra, tem salário inicial entre R$ 1,2 mil e R$ 2,1 mil. Todas as empresas estão investindo em qualificação, com criação de universidades corporativas, geridas por instituições de ensino privadas.

"Montamos grades curriculares específicas às nossas necessidades Agora, por exemplo, estamos formando geólogos e engenheiros para especificações como engenharia ferroviária, mineração e porto", diz Maria Gurgel, que não revela o montante de investimentos da Vale na especialização de seus profissionais.

A Petrobras também está perdendo talentos para concorrentes. O grupo de Eike Batista arregimentou dezenas de profissionais de primeira linha da estatal oferecendo, inclusive, participação acionária em suas empresas. Mas, a apropriação profissional não está restrita aos escalões mais altos. O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, reconhece que a escassez de mão-de-obra é uma das maiores preocupações da companhia, ao lado da insuficiente capacidade de produção de bens e serviços.

"Temos 60 mil empregados hoje em dia: 40 mil têm mais de 17 anos de casa e 20 mil, menos de 7 anos. Entre 7 e 17 anos não tem ninguém. Ou seja, temos de agilizar o treinamento dos mais jovens para ocupar gerências intermediárias", diz o executivo. Em 1989, a Petrobras tinha 60.028 empregados e, refletindo um fenômeno mundial na indústria do petróleo, teve seus quadros reduzidos, chegando a ter 32.809 colaboradores em 2001.

A partir de então, foi retomado o processo de reposição de efetivo. Foram admitidos de 20 mil empregados, uma renovação sem precedentes. Para este ano, a previsão é de admissão de cerca de 7 a 8 mil novos empregados, mesma quantidade prevista pela Vale. Mas, ao contrário da mineradora, a estatal só pode contratar por concurso público.

O Complexo Petroquímico do Rio (Comperj) principal empreendimento individual da história da Petrobras, com estimativa de investimentos totais de R$ 18,87 bilhões, com início de operação em 2012, irá demandar mais de 100 mil empregos diretos e indiretos.

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