Setor madeireiro sofre com baixa cotação do dólar

Com o dólar rondando abaixo da casa dos R$ 2,35, os setores que dependem das exportações são os que mais sentem os efeitos da desvalorização. A indústria de base madeireira é um deles. Justamente por ser o Paraná o Estado que mais exporta madeira reflorestada no País, e de o setor ter ocupado o segundo lugar em volume de exportações em 2004 – com US$ 1.168 bilhão, perdendo apenas para o de automóveis -, a crise vem repercutindo com diminuição da produção, portas fechadas e demissões em massa.

Após uma época de crescimento intenso, as empresas que trabalham com extração, plantio e transformação de madeira vêm enfrentando uma crise vista por alguns madeireiros como a pior das últimas duas décadas. O setor teve crescimento intenso a partir de 1999, com a desvalorização do real na transição do mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para Luiz Inácio Lula da Silva. ?Com isso obtivemos competitividade muito grande em mercados tradicionais, como a Europa, entramos nos Estados Unidos e passamos a competir em mercados como Caribe e Oriente Médio?, lembra o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), Luiz Carlos Toledo Barros.

Episódios como o 11 de setembro (atentado que destruiu as torres gêmeas nos EUA) alavancaram o mercado da construção civil nos Estados Unidos, já que a queda nas taxas de juros proporcionaram um boom à construção civil. ?Foram alavancadas as vendas de compensados, painéis de madeira, móveis de pinus, produtos de madeira agregada, serrados e madeira para construção.? A expansão se estendeu até o ano passado, quando as exportações brasileiras alcançaram o recorde de US$ 3.043 bilhões, mais que o dobro dos US$ 1.478 bilhão exportados em 2000.

A partir do ano passado, o setor começou a sentir os efeitos das altas taxas de juros aplicadas no Brasil para tentar conter a inflação. ?O que provocou crescimento do setor industrial foi o incremento nos preços das matérias-primas e de alguns insumos. Mas quando o dólar começou a desvalorizar, os custos não baixaram proporcionalmente à desvalorização do câmbio?, explica Barros. O fato fez com que a receita do setor, em reais, caísse cerca de 25% e, por se tratar de uma commodittie, tornou-se impossível aos industriais repassar a reposição para o preço no mercado externo.

Arrocho

Aliado a isso, países que despontam como competidores em potencial, como a China, começaram a vender mais e a preços menores, considerados por alguns industriais como abaixo do valor de mercado. E como o estoque florestal brasileiro tende a diminuir – efeito do chamado apagão florestal, ou seja, vendas maiores que produção – ninguém se dispôs a baixar o preço da madeira por aqui. ?Se o empresário fechou um negócio no exterior a um certo preço do dólar pode agora vender por um valor bem menor?, relata, uma vez que o pagamento é feito de acordo com a cotação do dia. ?Não tem como baixar os custos. Enquanto houver gordura financeira dá para suportar esse desequilíbrio. Caso contrário, é preciso desacelerar a produção?, acredita Roberto Gava, presidente da Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (Apre).

Além do ?pé no freio?, muitas empresas paranaenses vêm ainda optando por outros recursos ainda mais drásticos, como demissões e férias coletivas, ?principalmente as menores?, diz Gava. ?30% a 40% das empresas paranaenses dependem de florestas de terceiros, ou seja, não têm sua própria reserva florestal. As que são integradas, portanto maiores, sabem que o mercado externo é cíclico e estão mais bem preparadas para enfrentar os momentos de agrura?, diz.

Ainda assim, apesar de o quadro atual ter despontado recentemente – em meados do mês passado -, ameaças de continuidade podem ser devastadoras. ?Se não houver queda no preço da matéria-prima e o dólar não der sinais de valorização, vamos ter sérios problemas, como queda em volumes de exportação e produção?, alerta Luiz Carlos Barros.

Alternativas existem, mas incertas

Se o câmbio cumprir as previsões de queda até perto dos R$ 2,20, o produtor paranaense terá de pensar em alternativas para não ceder totalmente aos perigos da crise. Uma delas seria buscar novos mercados no exterior compatíveis com custos viáveis de produção. ?Isso significa fabricar e vender, em vez de produtos de primeira linha, de padrão inferior. É teoricamente viável, mas não sei se as empresas vão conseguir dar esse salto retroativo. A indústria de base florestal brasileira fez investimentos estupendos, pode atender qualquer exigência de mercado?, contrapõe o presidente da Apre, Roberto Gava.

Já o mercado interno é descartado tanto pela renda tímida do brasileiro como pela ausência da tradição em usar muita madeira de reflorestamento na construção civil. ?Isso é mais comum entre os americanos e europeus, que usam na arquitetura estruturas de parede, piso, painéis e cercas em madeira?, afirma o presidente da Abimci, Luiz Carlos Barros. Ele também acredita que as alternativas dependem do relacionamento entre as indústrias e seus fornecedores, abrangendo outros focos da transformação madeireira. ?A indústria de resinas, por exemplo, está baixando preços e negociando dentro de sua cadeia produtiva, mas isso ainda é muito incipiente nas toras. O preço delas é que precisa cair para que todos consigam recuperação de preços tanto de produto final como da matéria-prima?, finaliza. (LM)

Ociosidade pode chegar a até 80%

Boa parte da produção brasileira de compensados de pinus – cerca de 35% a 40% – tem origem em Palmas, extremo Sul do Paraná. Diversas indústrias da região se capitalizaram e cresceram, ganhando escala em função do mercado norte-americano. Uma delas é Campos de Palmas, que possui reserva florestal própria e emprega duas mil pessoas. A empresa é uma das que possuem maior evidência no setor, mas também sente os efeitos da baixa cotação do dólar. ?A redução da produção é uma medida estratégica para minimizar os reflexos do câmbio desfavorável e, neste sentido, a redução da mão-de-obra direta é conseqüência natural?, afirma o diretor-presidente da empresa, João de Oliveira Júnior. O quadro de funcionários foi enxugado em 30%.

A Argenta, Bonotto e Cia., também de Palmas, exporta desde painéis de madeira até compensados, mas não tem reserva própria. ?Estamos trabalhando no vermelho com dois produtos. Temos relação com clientes há mais de dez anos e não podemos abandonar isso?, justifica um dos proprietários, Luiz Carlos Bonotto. A empresa trabalha hoje com 25% de sua capacidade produtiva. ?Sabemos que em Palmas já houve mais de mil demissões no setor?, informa. O ritmo de produção também foi reduzido na empresa do deputado Valdir Luiz Rossoni, em Bituruna, que leva o nome do proprietário. ?Estamos operando com 20% da capacidade de produção?, avalia. Para ele, o problema maior não é parar a produção, mas arcar com as custas trabalhistas como conseqüência. ?Isso inviabiliza essa possibilidade?, afirma. O empresário manteve na empresa apenas mão-de-obra especializada. ?Estou com 70 funcionários, enquanto poderia ter 400?, lamenta.

Já Miguel Zattar, das Indústrias Zattar, de Curitiba, esperava arrocho para esta época do ano, mas acredita que o quadro deve melhorar ainda este ano. ?Os importadores estão em férias de verão, o mercado tem oscilação previsível. Eles devem retomar as compras no segundo semestre?, espera. O diretor-executivo da indústria Emílio B. Gomes e Filhos, de Irati, Luiz Carlos Toledo de Barros – que também preside a Abimci – afirma que medidas já foram tomadas por causa da crise. ?Demos férias coletivas nas duas unidades industriais e estamos revendo as ações para o futuro.?

O setor madeireiro como um todo era responsável pela manutenção de 29.266 empregos diretos no Estado. O número hoje é menor, mas ainda não há levantamentos oficiais sobre as demissões ocorridas recentemente nas indústrias paranaenses. (LM)

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