Assim como outros segmentos da indústria nacional, o setor caderneiro brasileiro vem sentindo os efeitos da política de juros elevados e taxa de câmbio valorizada. De acordo com pesquisa realizada pelo Departamento de Estudos Econômicos, da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf), junto aos fabricantes de cadernos, o período sazonalmente favorável ao setor, entre agosto/04 e março/05, não repetiu os resultados alcançados entre agosto/03 e março/04.
De acordo com as empresas que participaram da pesquisa – e representam grande parte do segmento de cadernos -, a produção total do produto no período analisado foi de 107.567 toneladas ante 113.383 toneladas no mesmo período anterior, uma queda de 5,1%.
A queda das exportações explica, em grande medida, o pior desempenho. A valorização do real é um dos fatores que reduz a atratividade das exportações, mas, além disso, o setor caderneiro viu aumentar a concorrência da China em seu maior mercado de destino das vendas externas, os Estados Unidos. As exportações declinaram 10,7% em volume entre agosto/04 e março/05.
Paraná
No Paraná, o setor gráfico parece não estar sentindo os mesmos efeitos da concorrência chinesa, nem dos efeitos cambiais. Segundo Rubens de Campos, secretário-executivo do Sindicato das Indústrias Gráficas no Paraná, o assunto ainda não chegou ao sindicato em forma de preocupação. ?Por enquanto, este problema não chegou até nós?, garantiu.
De fato, as grandes gráficas no Paraná confirmaram que nem a concorrência chinesa nem a valorização do real são motivos para preocupação. A Posigraf, uma das gigantes do setor instalada em Curitiba, informou que não trabalha com a linha de cadernos e, portanto, não está sentindo os efeitos da concorrência chinesa. Informou ainda que, apesar de exportar livros, o dólar baixo não tem sido empecilho.
Outra gráfica, a Ótima, em Pinhais, garante também que praticamente não vem sofrendo efeitos negativos da concorrência. ?Na verdade, a concorrência chinesa afeta muito pouco. Os chineses são mais competitivos no preço, e não é esse o nosso segmento. Primamos pela qualidade?, apontou a diretora de marketing da Ótima, Fabiana Farias. Instalada há 21 anos na Região Metropolitana de Curitiba, a Ótima trabalha basicamente com dois segmentos: o de papelaria, que inclui cadernos, agendas, calendários, índices telefônicos, e o de brindes corporativos – que inclui os mesmos produtos, mas personalizados. Só os cadernos e as agendas respondem por cerca de 30% da produção total.
Por enquanto, a indústria não exporta seus produtos e, portanto, não tem sofrido com as oscilações do dólar. Pelo contrário: a empresa importa boa parte da matéria-prima, inclusive capas de cadernos. ?Fazemos de dez a 15 importações por ano?, afirmou Fabiana. Nesse caso, a queda do dólar até tem contribuído para as contas da empresa.
?Temos expectativa de exportar, mas até hoje a empresa não se dedicou muito a isso. A prioridade no momento é nivelar os produtos e fortalecer a marca no Brasil.?
Queda nas exportações
Os dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior confirmam a pesquisa: as exportações totais de cadernos caíram 21,62% entre agosto/04 e março/05 ante mesmo período anterior. Vale ressaltar que as vendas para os Estados Unidos nesse período também caíram 26,03%.
Entre agosto de 2004 e março de 2005, o setor caderneiro exportou 9.891 toneladas, enquanto no mesmo período anterior esse montante foi de 11.080 toneladas. Em valores, esses números representaram, respectivamente, US$ 9,2 milhões e US$ 11,7 milhões.
A queda nas exportações também repercutiu na venda total do produto, que atingiu 107.340 toneladas no último volta às aulas frente a 108.086 toneladas no mesmo período anterior. Por outro lado, o volume das vendas no mercado interno, no período, apresentou um ligeiro crescimento de 0,46%.
Apesar da concorrência efetuada pela China, informações preliminares mostram que os fabricantes começam a sentir alguma melhora nas vendas externas, que deverá reverter-se numa menor queda das exportações no fechamento do ano.
O retorno às aulas no segundo semestre, chamado por alguns de ?minivolta às aulas?, também deverá mostrar recuperação das vendas, lembrando que o período representa para os fabricantes de cadernos entre 10% e 20% do faturamento anual.