Apesar da continuidade do ciclo de crescimento retomado em 2010, a expansão da economia brasileira em 2011 deve ser mais modesta, na avaliação do gerente-executivo de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco. “A demanda doméstica continuará a ser o principal estímulo da economia em 2011, mas a ritmo menor. Além disso, deve haver uma melhor combinação de política fiscal, que será menos expansionista do que foi em 2010”, disse o economista. Para Castelo Branco, com o câmbio valorizado e o aumento das importações, o setor externo continuará tendo contribuição negativa para o Produto Interno Bruto brasileiro no próximo ano. “Ou seja, com um comércio mais equilibrado, o crescimento poderia ser mais forte”, afirmou.
O economista disse que enquanto o aumento nas compras do exterior está diretamente relacionado ao volume dos produtos importados, o crescimento das exportações brasileiras – sobretudo de matérias-primas (commodities) – vem sendo sustentado pela elevação dos preços internacionais. Para ele, caso a trajetória de queda no saldo comercial continue, pode haver déficit em 2012. “A atual trajetória mostra uma tendência que, se não for alterada, vai se manifestar em saldo negativo”, afirmou.
Nesse sentido, o câmbio valorizado é um desafio que precisa ser enfrentado o quanto antes. “A política econômica tem o desafio de compatibilizar ações de curto prazo para reverter o processo e sustentar uma maior competitividade da produção nacional”, concluiu.
Desindustrialização
Com a competição cada vez mais acirrada nos mercados mundial e doméstico, alguns setores da indústria brasileira – sobretudo os de maior desenvolvimento tecnológico – correm o risco de desaparecer, na avaliação do presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.
“O termo desindustrialização é difícil de colocar, porque é claro que não são todos os setores que estão sendo afetados. Mas, com o passar do tempo, alguns setores fundamentais perdem capacidade, principalmente os habituados com inovação e desenvolvimento de tecnologia. Se não tomarmos os cuidados necessários, alguns setores podem desaparecer”, afirmou.
Andrade defendeu um ataque maior por parte do governo à questão cambial, com a adoção de medidas como a ampliação da tributação sobre a entrada de capital externo no País, além da implementação de uma quarentena para a permanência desses recursos no Brasil.
Além disso, o executivo também ressaltou a importância de uma maior agressividade na defesa comercial brasileira. “Não podemos colocar a indústria em concorrência predatória e não isonômica com alguns países que não investem nas questões trabalhistas e ambientais e que mantém uma taxa de câmbio artificial. Temos que ampliar política antidumping, implementar barreiras técnicas que não sejam contrarias às regras da OMC, mas que possam proteger a indústria nacional”, afirmou.