Rio – As empresas do setor de energia são as maiores devedoras dos bancos brasileiros. Dados preliminares do Relatório de Estabilidade Financeira, a ser apresentado pelo Banco Central (BC) em novembro, apontam que o setor de produção e distribuição de energia está em primeiro lugar entre os setores econômicos, na lista de cem maiores devedores do Sistema Financeiro Nacional (SFN).
“Todos conhecem os problemas por que passa o setor de energia no Brasil”, limitou-se a comentar o chefe do Departamento de Supervisão Indireta do Banco Central, Vânio Cesar Pickler Aguiar, ao apresentar os dados ontem, no seminário “Eficiência,produtividade e estabilidade bancária”, na sede do banco no Rio de Janeiro. O relatório refere-se a conglomerados e instituições financeiras captadoras de depósitos (ou com carteira comercial) que representam 98% do SFN.
De acordo com BC, os cem maiores devedores, dentre os segmentos econômicos, totalizavam exposição de R$ 89,9 bilhões nas operações de crédito dos bancos em maio. Os cinco setores que encabeçam a lista dos débitos representam mais da metade do total geral dos cem maiores devedores. O Banco Central forneceu a lista apenas dos dez setores que estão no topo do endividamento bancário.
O BC não divulgou o total geral das operações de maio. Mas, em junho, este volume atingiu R$ 383 bilhões. Numa comparação aproximada, já que são meses diferentes, pode-se dizer que o grupo de cem maiores devedores concentra pouco mais de 23% dos créditos totais oferecidos pelo sistema financeiro no País.
As empresas de energia, por sua vez, respondem por uma fatia de 14,83% da dívida da lista de maiores devedores, com débitos que somam R$ 16,5 bilhões. A diferença entre a exposição de dívida proveniente do setor de energia e do de telecomunicações, que ocupa segundo lugar entre os maiores devedores, é de R$ 4,7 bilhões.
Somente o valor dessa diferença é mais elevado do que o débito de cada um dos setores que ocupam da sexta à décima colocação no ranking dos mais endividados. As empresas de telecomunicações têm exposição de R$ 11,8 bilhões nas contas dos bancos.
Inadimplência
Aguiar informou que a redução na atividade econômica tem elevado a taxa de inadimplência registrada nas operações de crédito concedidas pelos bancos. Segundo ele, a taxa de inadimplência do Sistema Financeiro Nacional passou para 8,4% em junho, um acréscimo de 1,8 ponto percentual em comparação com o registrado em dezembro de 2002.
“No caso do setor financeiro, há tendência crescente na inadimplência dos bancos públicos”, acrescentou. Aguiar informou que, somente nas operações de crédito realizadas por este tipo de banco, a taxa de inadimplência chegou a 8,8% em junho – ou seja, foi maior que a média do sistema financeiro.
Mesmo com o crescimento da taxa de inadimplência, os bancos não reduziram o ritmo de concessão de recursos. As operações de crédito do SFN atingiram até junho elevação de 15,4% em comparação com dezembro de 2001.
