Em 2014, o Brasil contabilizou 95 milhões de ações judiciais em tramitação, entre elas, conflitos de clientes com planos de saúde, companhias aéreas e operadoras de cartão de crédito. No entanto, grande parte desses processos poderia ser resolvido antes mesmo de chegarem aos tribunais, por meio do instrumento de conciliação. Por isso, não é de se estranhar que alguns empreendedores, tendo percebido esse enorme mercado em potencial, começam a arriscar negócios na área. Alguns, inclusive, já colhem bons resultados. Eles são o que a comunidade jurídica convencionou chamar de ‘conciliadores independentes’.

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Esse mercado, por sinal, já começa até a apresentar algumas inovações – tudo para fazer frente aos concorrentes, cada vez mais numerosos. O empresário carioca José Agostinho Simões, por exemplo, criou uma conciliadora online, a Concilie. O procedimento desenvolvido por ele evita o deslocamento e o encontro entre as partes envolvidas no conflito jurídico. A plataforma permite que documentos sejam anexados à conversa virtual. “Sempre fiquei muito incomodado com o anacronismo do judiciário. E a representação (o serviço oferecido pelos advogados) é de baixa qualidade”, diz Agostinho, que hoje trabalha com uma média de 80 a 100 processos por dia e, segundo ele, conta atualmente com uma taxa de 100% de sucesso nos casos. “Vencida a barreira da desconfiança, temos o diferencial da velocidade em resolver o processo e da economia de tempo e de dinheiro. A decisão judicial sempre termina com uma ponta de injustiça, porque é um terceiro indicando um lado vencedor. A conciliação é satisfatória para ambos”, afirma Agostinho, que começou a empresa com apenas um funcionário e agora conta com 20 conciliadores.

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“Foi difícil convencer as corporações de que há validade judicial em um acordo feito por meio de um chat. No início, eu viajava para São Paulo toda semana e batia de porta em porta para mostrar meu trabalho. O que mais ouvi foi: ‘Eu não tenho tempo para novidades’. Eu pensava todos os dias: ‘Será que estou maluco? Será que só eu acredito nisso?'”.

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Agostinho evita falar sobre os valores cobrados por uma conciliação independente, que no caso da sua empresa é direcionada para grandes corporações, mas garante que o negócio compensa. “Posso afirmar que o serviço é mais barato que o custo de um processo tradicional.”

Mercado aberto

O coordenador do curso de mediação e arbitragem da FGV-Rio, Rodrigo Dias da Rocha Vianna, explica que não é necessário ser advogado ou atuar no sistema judiciário para ser conciliador de uma causa, o que possibilita a empreendedores de diversas áreas e formações ingressarem nesse novo segmento profissional.

“Não há uma formação específica para o conciliador. O mais importante é que haja domínio do tema da ação e habilidades de comunicação por parte do profissional”, explica Rodrigo Vianna. “(O processo judicial) representa um momento de ânimos exaltados, por isso, o conciliador deve promover o diálogo”, reitera o professor da FGV-Rio.

Ainda de acordo com o especialista, o instrumento da conciliação judicial tem sido empregado como uma alternativa comum em conflitos que envolvem questões familiares, relações entre pais e escolas, além de processos movidos contra e por hospitais e por operadoras de planos privados de saúde. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.