Os acordos salariais realizados nas últimas semanas entre empregados e fornecedoras de autopeças para montadoras devem injetar cerca de R$ 21 milhões na economia do Estado.
Ontem, o Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba (SMC) e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgaram um balanço das 20 negociações realizadas na região, que garantiram a cerca de 5 mil a 6 mil trabalhadores da categoria aumentos reais de 3,7% (8,3%, no total), abonos de R$ 1,5 mil e piso salarial de R$ 1 mil.
Para o presidente do SMC, Sérgio Butka, um dos principais fatores positivos das negociações deste ano foi a consolidação do Estado como referência para o setor no País, ao lado da região do grande ABC, em São Paulo onde os acordos deste ano foram inferiores aos paranaenses.
“O Paraná hoje é um grande balizador das últimas negociações nacionais. Antes todos esperavam o que iria acontecer no ABC para usar os acordos como referência”, observou.
De acordo com Butka, o piso salarial do setor de autopeças fechado na Grande Curitiba já é maior que do Grande ABC, que é de R$ 980. Mesmo assim, os salários médios na região paulista ainda são maiores que os paranaenses, que recebem R$ 2.273. Em São Bernardo do Campo, por exemplo, a média é de R$ 2.927; no restante da Grande São Paulo, de R$ 2.342; em Campinas, chegam a R$ 3.330.
O sindicalista apontou que, ao menos no setor de autopeças, as negociações, feitas individualmente com cada empresa, foram rápidas e não ficaram marcadas por greves mais destacadas.
Segundo ele, os funcionários da companhia Thyssenkrupp Presta, em São José dos Pinhais, foram os que realizaram a paralisação mais longa, que durou 24 horas. Na maioria das outras, quando houve suspensão das atividades, a pausa foi curta: de 30 minutos a uma hora apenas.
O economista do Dieese, Cid Cordeiro, avaliou que as conquistas foram positivas. “As negociações começaram em um patamar de 0% e chegaram aos 3,7% de aumento real”, diz.
Para ele, o cenário, este ano, foi bem diferente, já que a crise levou a uma série de demissões no setor, entre as duas datas-base. “Os trabalhadores pagaram a crise com o emprego, e foram buscar a retomada no salário”, explica.
Apesar dos resultados positivos nas fornecedoras de autopeças, uma das empresas, onde as negociações devem começar no mês que vem, deverá merecer cuidados especiais do Sindicato. É a Bosch, que, em crise devido à diminuição da demanda internacional, demitiu, ainda em junho, 900 funcionários.
“A recuperação do mercado da empresa deve acontecer somente no segundo semestre do ano que vem”, lembrou. “Até lá, certamente teremos dificuldades. Temos que negociar com mais tato.”
Montadoras
Butka também fez uma avaliação das negociações com as montadoras, que levaram a greves nas três principais indústrias do setor na região. Ele minimizou as ameaças feitas por algumas empresas, de que as paralisações quase anuais poderiam afetar novos investimentos no Estado.
“É uma queda de braço, normal quando a disputa fica mais acirrada”, afirmou, lembrando que investir no Paraná ainda é muito vantajoso para as companhias, devido à produtividade mais alta e os salários mais baixos.
Segundo Butka, cada metalúrgico paranaense produz 2,8 automóveis por ano em média, enquanto os paulistas fabricam 1,7. Ao mesmo tempo, a média dos salários no setor, no Paraná, ainda é 54% menor do que a de São Paulo.