Setor da louça mostra recuperação

Mesmo prevendo um faturamento 25% maior este ano na comparação com 2007 – passando de R$ 200 milhões para R$ 250 milhões -, o setor de louça e cerâmica de Campo Largo prefere não falar em crescimento, mas sim em recuperação. “O setor está, gradativamente, recuperando o que perdeu com a crise brasileira e a concorrência chinesa”, apontou o presidente do Sindilouça-PR, José Canisso, referindo-se ao período entre 94 e 2000, quando a economia não contribuiu com o setor e, mais recentemente, com o câmbio que abriu as portas do País para os produtos chineses.

De acordo com Canisso, o setor está tendo que usar a criatividade para aumentar o faturamento. “Na porcelana, já conseguimos superar os chineses; nossos produtos têm qualidade bem superior aos deles. Mas a cerâmica e o vidro estão enfrentando algumas dificuldades”, contou. Segundo ele, já há entendimento de que ambos têm que melhorar a qualidade e o preço.

Para Canisso, produtos que entram no Brasil deveriam seguir algumas regras internacionais. “Quando exportamos, precisamos apresentar uma certificação de que os produtos são isentos de chumbo e cádio. Mas quando vêm produtos de fora, este certificado não é exigido”, reclamou. Segundo ele, o setor já denunciou o problema ao Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas ainda não foram tomadas providências. O risco é que o chumbo entre no organismo das pessoas num primeiro momento e, num segundo, seja despejado no meio ambiente.

“Não somos contra a importação, mas a concorrência é desleal. Todos esses produtos recebem subsídios”, apontou Canisso. De acordo com o presidente do Sindilouça-PR, “o mercado não está comprador”, mas o segmento está trabalhando satisfeito. O setor conta com 35 fábricas em Campo Largo, que produzem juntas cerca de 450 milhões de peças por ano e empregam cerca de 12 mil pessoas, de forma direta e indireta.

Do total de louças (cerâmica e porcelana) produzidas em Campo Largo, entre 20% e 30% vai para o mercado externo, principalmente para o Caribe, Estados Unidos, México, países da Europa, além da Austrália e Nova Zelândia. “Lá fora, a concorrência é em igualdade de condições e todos têm que cumprir as normas exigidas. Na Europa, ainda temos grande vantagem, pois nossos produtos têm toque artesanal e os europeus gostam disso.”

Desafios

Entre os desafios estão melhorar o preço para que mais pessoas tenham acesso às louças e porcelanas. “A louça de cerâmica já chegou às classes C e D, mas as de porcelana continuam restritas às classes A e B. A estimativa é que mais de 30 milhões de brasileiros não têm acesso a um prato de louça”, disse. Outros desafios são aumentar a produtividade, através de equipamentos mais sofisticados, e reduzir a carga tributária. Segundo Canisso, as empresas têm também que se organizar “para que quem faz o prato não precise fazer a massa (matéria-prima)”. “Antes, a empresa era obrigada a fazer todo o processo, desde a embalagem, o decalque, a massa, a porcelana. Temos que superar isso, fortalecer as APLs (Arranjos Produtivos Locais)”, disse.

Por outro lado, o setor conseguiu conquistas importantes, como a estabilização do preço do gás natural – matriz energética de dez grandes indústrias do setor instaladas no município. “Já sofremos muito no passado com o gás mais caro do País. Mas hoje o preço está mais compatível e vem se mantendo mais ou menos estável há cerca de dois anos. Ainda é alto, mas suportável”, arrematou.

Feira em Campo Largo deve atrair cerca de 70 mil pessoas

Allan Costa Pinto
Ros&a,circ;ngela Flores: expectativa de aumentar a produção

Cerca de 70 mil pessoas estão sendo esperadas pela organização da 18.ª Feira da Louça, que começou na última quinta-feira e segue até dia 14, no Ginásio de Esportes da Rondinha, em Campo Largo. Além dos tradicionais jogos de jantar e de café, é possível encontrar muitos objetos de decoração e peças exclusivas. A feira é oportunidade para que os consumidores possam comprar diretamente das fábricas, com descontos que podem chegar a 30%.

“Abrimos a feira na quinta-feira e hoje (sexta) já vamos ter que repor mercadorias”, disse satisfeita Eliane Rosa, uma das proprietárias da Cerâmica Brasília, fábrica fundada há 48 anos que emprega atualmente cerca de 40 pessoas. Segundo Eliane, o mercado está de fato aquecido. “Não há do que reclamar. O aumento do crédito está levando muitas pessoas a renovar a louça de casa”, disse.

No Ateliê Rô Flores, que trabalha com decoração de porcelanas, as expectativas também são boas. “Trabalhamos com todas as linhas, do clássico ao contemporâneo, além da linha infantil e juvenil. Também fazemos decoração personalizada, conforme o gosto do cliente”, explicou a proprietária do ateliê, Rosângela Flores.

Segundo ela, são as empresas – que costumam oferecer brindes principalmente no final do ano – os principais clientes. O faturamento médio mensal da pequena empresa gira entre R$ 10 mil e R$ 12 mil, mas a expectativa é chegar a R$ 20 mil no ano que vem. Para isso, deve aumentar a produção e o número de funcionários.

Na Grejj Graus, empresa que está há 30 anos no mercado, a idéia também é investir. De acordo com a nora da proprietária, Niuzete Feltrin Ribeiro, a família pensa em comprar um novo forno, estimado em pelo menos R$ 100 mil. “Temos que investir em tecnologia para não ficar para trás”, disse. Depois de mais de duas décadas produzindo apenas peças de cerâmica e grés – meio termo entre cerâmica e porcelana -, a família que dirige a empresa decidiu investir na produção de porcelana há dois anos. “A qualidade da porcelana é bem melhor, é uma peça mais fina. O mercado também é melhor”, disse Niuzete. (LS)

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