Com boa parte de sua produção direcionada para o mercado interno o setor automotivo brasileiro tem ignorado a crise financeira internacional e, pelo menos por enquanto, todas as estimativas e projetos de investimentos das montadoras estão mantidos. Cálculos da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) apontam para um aumento de 22% nas vendas no País em 2007, atingindo um volume recorde de 2,35 milhões de veículos. A produção, por sua vez, deve crescer 10% e chegar a 2 87 milhões de unidades.
Ainda é cedo para estimar se a turbulência financeira externa terá impactos importantes sobre o mercado brasileiro de automóveis, que tem o seu melhor momento dos últimos 10 anos. Tudo vai depender da sua duração e da sua intensidade, mas os especialistas apontam que não está descartada uma piora na oferta de crédito, com a queda dos prazos de pagamento e aumento das taxas de juros como um primeiro sintoma.
Esse movimento teria impacto negativo direto nas vendas de carros, já que o bom momento de vendas vivido hoje foi motivado, sobretudo, pela facilidade de crédito, com juros baixos e prazos nunca antes vistos, de até 84 meses. Outros fatores, ainda, como a redução do ritmo de crescimento da economia e da massa salarial, se ocorrerem, podem contribuir para interromper a tendência de expansão do setor automotivo.
Crédito
Entretanto, essa não é a aposta do setor. Na opinião do presidente da Anfavea, Jackson Schneider, o ponto favorável do mercado interno, o crédito, continuará consistente nos próximos meses. Até junho deste ano, o total de recursos destinado ao financiamento de veículos somou R$ 71 bilhões. O montante é 24 6% maior que o ofertado no mesmo mês do ano passado. Os juros nessas operações caíram 5,2 pontos porcentuais, para 19,4% em junho de 2007, ante igual mês de 2006. A inadimplência também está controlada, informa a Anfavea. O índice médio de atrasos nos contratos manteve-se em 3,2% em junho, mesmo patamar do mesmo mês do ano passado. Nos demais setores, a média é de 7,1%.
O presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), Sérgio Reze, afirma que até agora as vendas de automóveis não refletem qualquer efeito da crise. ?Ainda não houve nenhuma interrupção do fluxo de financiamento ou aumento da taxa de juros?, diz. O executivo afirma, no entanto, que ainda é cedo para falar sobre impactos no médio e longo prazo
Enquanto o quadro atual estiver mantido, com o mercado aquecido, várias montadoras projetam investimentos para o lançamento de produtos e ampliação da capacidade instalada. Neste caso, a solução tem sido tanto a reativação ou aumento da produção na Argentina como a abertura de novos turnos de trabalho no Brasil. As empresas não admitem, no entanto, que estejam trabalhando com estoques abaixo do desejável e explicam que a falta de alguns produtos nas concessionárias é pontual.
Estoques
Segundo o presidente da Anfavea, os estoques na indústria e nos concessionários estão em níveis razoáveis e não sinalizam preocupação. Dados da Anfavea indicam estoque total do setor de 139.321 unidades em julho de 2007, o que corresponde a 19 dias de vendas. No mesmo mês do ano passado, os estoques equivaliam a 22 dias, com 143.498 unidades.
De acordo com o analista automotivo da Tendências Consultoria, Alexandre Andrade, mesmo que a crise não afete intensamente o setor, os investimentos em novas unidades fabris não saem antes de o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior apresentar o pacote de apoio ao setor. O projeto está sendo elaborado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e envolverá iniciativas como linhas de financiamento para pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e para expansão da capacidade produtiva.
Por enquanto Fiat e Volkswagen seguem o pacote de investimentos já aprovado. A primeira prevê aportes de R$ 5,2 bilhões até 2011 na América do Sul, enquanto a alemã destinará R$ 2,5 milhões. A Ford continua fazendo melhoria de produtividade no Brasil e investe na Argentina. Renault e PSA Peugeot Citröen, por sua vez apostam no aumento de turnos para atender à forte demanda.