Responsável pelos estudos técnicos do Ministério da Economia que embasam as razões para convencer os congressistas a aprovar a reforma da Previdência, o secretário de Política Econômica (SPE), Adolfo Sachsida, diz que daqui a cinco anos, em 2023, poderá haver dois “Brasis” diferentes: um com a aprovação da reforma em franco crescimento e outro sem ela, mergulhado em profunda recessão e sem empregos. Ele avalia que os ventos pró-reforma são favoráveis agora e que a proposta favorece os mais pobres.
O secretário rebate as críticas da oposição de que o estudo da SPE mostrando o impacto da reforma é exagerado. Segundo ele, o estudo é até mesmo conservador e baseado em análise técnica e profunda. Pelo estudo, a taxa de desemprego pode chegar a 15,1% em 2023 sem a reforma da Previdência. Já, com a reforma, poderão ser criados quase 8 milhões de empregos no período. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Os críticos consideraram exageradas as previsões do ministério sobre o impacto da reforma da Previdência. Qual a sua avaliação?
Eu não vi economista dizendo isso. Nos grupos de economistas de que eu participo não teve isso. A rigor esse número chama a atenção, mas não é diferente do que vimos no passado. O nosso documento mostra que, de 2019 a 2023, se aprovada a reforma, teriam R$ 5,8 mil a mais de PIB per capita.
De 2014 a 2016, o PIB per capita caiu R$ 3 mil. O aumento do desemprego de 2014 para 2017 foi de 6,8% para 12,7%. Da mesma maneira que caiu, o que eu esperaria agora era que subisse muito. Houve uma crise. Passa uma reforma, eu esperaria um aumento grande. Esses números estão bem conservadores. Quando se olha o aumento do desemprego de 2014 a 2016, foi gigantesco. A taxa bateu 14% da população economicamente ativa. Foi um movimento muito grande.
Com a aprovação da reforma, o cenário de melhoria pode até ser mais rápido?
Pode ser. O que estou dizendo é que nosso cenário é conservador. E também está muito próximo do cenário de mercado. Tem de olhar que em 2023 vão existir dois ‘Brasis’. O Brasil com a reforma e sem a reforma. Não posso comparar o Brasil de hoje com o da reforma. Vamos ser honestos, se essa reforma não passa, é natural que o País entre em recessão. Não tem o que fazer. Os nossos dados apontam que, no segundo semestre de 2020, sem a reforma, nós já estaremos em recessão. O Brasil, sem reformas, vários empregos que existem hoje vão deixar de existir. E o Brasil com reformas vai criar emprego. Os oito milhões de empregos são a diferença do cenário sem reforma para o com a reforma. Tenho certeza que quem entende sabe que o número não está superestimado. É um número amplamente defensável. Vamos divulgar nesta semana a nota técnica com as contas.
O ministério vai mostrar como chegou a essas previsões?
Com certeza. Só não divulgou a nota técnica porque é razoavelmente complicado fazer isso. Deixamos o detalhamento técnico para fazer depois. É modelagem difícil de várias equações. Não estamos descolados das estimativas de mercado. O que acontece é que o mercado fala que existe uma probabilidade de 80% de a reforma passar. O que assumimos é que ela vai passar. É natural que nossa estimativa fique um pouco acima. Os números não são exagerados. É o contrário, se não aprovarmos a reforma, a recessão é que vai ser dura. Eu tenho certeza que, se perguntar para qualquer analista o que acontece se não aprovar a reforma, ele vai dizer que tem recessão de cara em 2020. Nosso texto ainda dá uma ‘espaçozinho’ para começar a recessão. A economia trava. Não tem como. Se não corrigir um déficit de R$ 300 bilhões por ano da Previdência, como vai corrigir o problema da economia?
O trabalho da SPE é de defesa da reforma da Previdência?
É um trabalho técnico, sólido e com modelagem de ponta. É a nossa narrativa. Estamos montando a estratégia de defesa da parte econômica. É bom deixar claro que a defesa da reforma é feita pela secretaria especial de Previdência. O secretário Rogério Marinho é excelente.
A mobilização pela reforma está boa?
Eu vejo um ambiente muito mais propício para a reforma. Está todo mundo confiante.
O senhor é funcionário público e vai ter aumento da alíquota de contribuição. Como se sente?
Graças a Deus! Eu me sentia muito mal antes. Estou nessa elite de funcionários públicos. Todo mundo está sendo chamado a contribuir. Políticos, magistrados, funcionários públicos de alto escalão… Por isso, ela é justa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.