Sem crédito, carro usado encalha

O mercado de carros usados, embora tenha apresentado pequena melhora em setembro, não consegue acompanhar as vendas de modelos zero-quilômetro, que seguem aquecidas por causa das promoções e do crédito facilitado. Hoje, para cada automóvel novo vendido no País, são comercializados 2,1 usados, paridade que era de quase cinco por um em 2004 e de 3,3 no ano passado.

Desde o início da crise financeira internacional, quando o crédito secou, carros usados tiveram desvalorização de até 40% para versões mais antigas e de 15%, em média, para modelos seminovos, com até três anos de uso. Desde então, não houve recuperação, afirma o presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), Sérgio Reze. “Quando os bancos cortaram o crédito para os carros novos, cortaram ainda mais para os usados”, observa.

Para os automóveis novos, os juros e os prazos longos de pagamento já voltaram aos níveis de antes da crise. O mesmo não ocorreu para os usados. “O crédito continua seletivo para esse segmento”, atesta George Chahade, presidente da Associação dos Revendedores de Veículos Usados do Estado de São Paulo (Assovesp).

Somente em São Paulo, foram vendidos pelas lojas independentes, em setembro, 138,9 mil automóveis e comerciais leves usados, 2,8% mais que em agosto. No País todo, segundo a Fenabrave, foram 637,2 mil unidades, 1,7% acima do mês anterior. No ano, os números totais somam 5 milhões de unidades, queda de 7,5% na comparação com o mesmo período do ano passado.

Já o mercado de carros novos segue aquecido, mesmo após o retorno gradual da cobrança do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), a partir deste mês.

Na primeira quinzena de outubro, foram licenciados 143,7 mil automóveis e comerciais leves, um aumento aproximado de 24% na comparação com igual período de setembro, que foi o melhor mês da história do setor, com 308,7 mil unidades vendidas. Somando as vendas de caminhões e ônibus, os negócios somam 149,7 mil unidades, também com alta de 24% ante agosto.

Neste fim de semana, quase todas as montadoras de veículos estão realizando feirões com ofertas de preços ainda sem o repasse do IPI, juros zero, IPVA grátis e pagamento da primeira parcela do financiamento somente em janeiro de 2010.

 

Com tantas promoções e crédito farto, mais consumidores estão tendo acesso ao primeiro carro zero – ou conseguem comprar o novo sem se desfazer do usado, até porque os preços pagos pelos lojistas na troca não são convidativos.

 

“Tentei comprar um Hyundai i30 dando como parte do pagamento um Polo 2005, que vale cerca de R$ 27 mil”, conta o dentista Mauricio Tuzzolo. “Me ofereceram R$ 22 mil e eu preferi ficar com o carro – para a família – e financiei o novo em prazo mais longo.”‘

Pesquisa feita em agosto pela consultoria MSantos, especializada em varejo de veículos, com 1.150 consumidores em um feirão multimarcas realizado em São Paulo constatou que 49,2% deles buscavam um carro zero pela primeira vez, informa o economista Ayrton Fontes. Segundo ele, a renda média mensal dos entrevistados era de R$ 2,8 mil e o valor médio do financiamento, de R$ 21,5 mil.

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