Pressionado por uma taxa de inflação que terminou 2013 em nível muito acima do esperado pelo mercado financeiro e pelo próprio governo, o Banco Central (BC) decidiu nesta quarta-feira, 15, abrir seus trabalhos em 2014 com uma elevação dos juros superior à expectativa do mercado.
A decisão de levar a Selic a 10,5% ao ano já era aguardada pelo Palácio do Planalto e pela equipe econômica e serve para indicar o compromisso do governo com a estabilidade, uma semana antes da participação de Dilma Rousseff no Fórum Econômico Mundial, em Davos.
Como revelou o jornal O Estado de S.Paulo no sábado, a Presidência deu “carta branca” ao BC para que mantivesse o ritmo do ciclo de elevação de juros, iniciado no ano passado. Desde o fim de 2013, a sinalização do BC era de que a primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) deste ano viria com um aumento menor do que o das últimas cinco reuniões – nas previsões da maior parte do mercado financeiro, a elevação da Selic seria de 0,25 ponto porcentual.
As apostas começaram a mudar com a divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de dezembro, de 0,92%, a maior alta para meses de dezembro da série histórica do IBGE, iniciada em 2002. Com isso, o IPCA de 2013 avançou 5,91%, superando a única meta do BC em 2013: entregar uma inflação inferior aos 5,84% de 2012. Não conseguiu.
Única arma
Dada a falta de credibilidade da política fiscal, a própria equipe econômica passou a encarar a política monetária como principal – para não dizer a “única” – arma para combater o avanço dos preços no ano eleitoral que começa.
Na visão do governo, a elevação da Selic a 10,5% ao ano poderia funcionar como gesto econômico poderoso, de sinalização ao mercado financeiro de que o objetivo de reduzir a alta de preços é “crucial”. O gesto seria também político, já que o governo busca, de todas as formas, readquirir uma margem de manobra para a política econômica – criticada pelo mercado depois das manobras para fechar as contas fiscais de 2012.
A decisão do BC foi unânime, e o comunicado do Copom foi lacônico, o que deixa portas abertas para que nova alta de 0,5 ponto porcentual da Selic na reunião de fevereiro, caso considere necessário.
Cenário
Depois da notícia ruim no campo inflacionário, o governo espera reverter as expectativas do setor privado, e embarcar para a reunião do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na semana que vem, com um cenário positivo para a atividade econômica em 2014.
Com a nova Selic em 10,5%, Dilma inicia o ano em que busca sua reeleição com uma taxa básica de juros muito próxima daquela que vigorava quando recebeu a faixa presidencial, em janeiro de 2011, então em 10,75% ao ano. Nos últimos três anos, a presidente fez da redução dos juros uma de suas principais bandeiras eleitorais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.