Segundo FMI, situação dos EUA é de crise completa

A situação atual dos Estados Unidos tem algumas semelhanças com episódios anteriores de estresse financeiro relacionados ao sistema bancário, que foram seguidos por recessão, admitiu hoje o Fundo Monetário Internacional (FMI). “A turbulência financeira que começou no verão de 2007 (no hemisfério Norte) se transformou em uma crise completa”, reconheceu o Fundo no relatório Perspectiva Econômica Mundial (WEO, na sigla em inglês).

O FMI criou o Índice de Estresse Financeiro (FSI, na sigla em inglês), identificando 113 episódios entre 17 países, nos últimos 30 anos, para estudar o impacto que eles tiveram na macroeconomia. Foi a partir do FSI que o Fundo constatou que “permanece uma probabilidade substancial de um declínio acentuado (da atividade econômica) nos EUA”. No documento, o Fundo avalia que os “EUA continuam enfrentando risco considerável de recessão, mesmo que os juros reais estejam baixos, segundo os padrões de recessões que foram causadas por estresse financeiro”.

O FSI é calculado com base em sete variáveis agrupadas em três categorias. Ou seja, três variáveis da categoria ‘setor bancário’; três variáveis da categoria ‘mercado de ações, bônus e derivativos; e uma variável da categoria ‘mercado de câmbio’

Segundo o FMI, a situação atual de estresse financeiro é uma das mais intensas já experimentadas pelos EUA e uma das mais espalhadas, afetando praticamente todos os países na amostra do índice criado. “Os padrões de preços de ativos, crédito agregado financiamento líquido das famílias nos EUA, durante o episódio atual de estresse financeiro, parecem semelhantes àqueles anteriores que foram seguidos por recessão”.

Na Europa, diz o FMI, patrimônios relativamente fortes das famílias oferecem alguma proteção contra um declínio acentuado da atividade econômica.

Com base no FSI, o FMI observou que, quando a turbulência está concentrada no setor bancário e não apenas nos mercados de ações bônus e derivativos, além do de câmbio, a desaceleração ou recessão que se segue habitualmente é substancialmente mais severa do que as desacelerações ou recessões que não são precedidas por estresse financeiro.

“Em particular, desacelerações ou recessões precedidas por estresse relacionado a bancos tendem a envolver de duas a três vezes mais perdas acumuladas de produção e tendem a durar duas ou quatro vezes mais (do que recessões precedidas por outras causas)”, afirma o economista-adjunto da Divisão do Departamento de Pesquisa do FMI, Subir Lall.

Lall observa que nem todos os episódios de estresse financeiro levaram a declínios econômicos ou recessões. “Na verdade, isto aconteceu apenas na metade dos episódios identificados”. “Os mercados são muito mais voláteis do que a economia”, ponderou.

O que determina se o estresse relacionado a bancos será seguido por desaceleração ou uma recessão é a combinação inicial de fatores. Em particular, a chance de o estresse financeiro ser seguido por um declínio econômico relaciona-se ao ritmo da elevação dos preços de moradias, rápida expansão do crédito agregado da economia antes do episódio de estresse.

“Mais do que isso, a grande dependência de financiamento por instituições que não são do setor financeiro é associada a uma desaceleração mais aguda como resultado do estresse financeiro”. Também, os desequilíbrios financeiros dos consumidores são cruciais para determinar se o declínio irá evoluir para uma recessão.

Os capítulos analíticos divulgados hoje pelo Fundo não contêm revisão das projeções para as diversas economias do mundo, o que possivelmente será feito na próxima semana, durante o Encontro Anual do FMI e Banco Mundial, em Washington. Vale lembrar que, em julho, o FMI havia dito que a economia dos EUA estava “quase paralisada” e projetava um crescimento inferior a 1% do Produto Interno Bruto (PIB) do país no ano de 2009, mas ainda no território positivo.

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