O coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros, atribuiu a desaceleração da inflação pelo Índice Geral de Preços ao Mercado (IGP-M), de 1,05% em outubro para 0,69% em novembro, ao comportamento dos preços de algumas matérias-primas agropecuárias. Inicialmente, a análise dele parece contraditória se comparada com as avaliações dos analistas do mercado financeiro ouvidos pela Agência Estado, para os quais justamente os preços dos agrícolas é que levaram o IGP-M a fechar acima das expectativas.
Para Quadros, essa aparente contradição se explica porque os analistas estão dando mais peso para a alta das matérias-primas agropecuárias do que para o fato de que os tais aumentos foram menores do que se verificou em outubro. Mas há que se considerar também, de acordo com o coordenador, que alguns preços estão subindo, mas que o conjunto está caindo. O preço da soja no atacado, por exemplo, subiu 3,77% em novembro, mas em outubro o aumento foi de 9,77%.
"Não podemos esquecer que há uma forte demanda no mundo por soja. É por isso que estes preços não desaceleram mais", afirma Quadros. Ele acrescenta que a produção de soja está sofrendo no mundo a forte concorrência do milho. "O pior é que mesmo com a expansão das áreas de plantio do milho, a oferta não tem sido suficiente para atender a demanda puxada pela produção de etanol nos Estados Unidos", explica o coordenador da FGV. Mesmo assim, o ritmo de alta no preço do milho foi reduzido, de 9,60% para 7 10% do mês passado para este.
Mas, mesmo dando mais peso para a desaceleração da inflação do que os analistas do mercado deram, Quadros mostra-se pouco otimista com os rumos da inflação medida pelo IGP-M. Isso porque segundo ele, já há sinais que o preço do milho voltará a subir. Mas antes que isso aconteça, as carnes já estão pressionando a inflação com aumentos. Os rastros de alta do boi começam no campo e terminam na cidade, nos açougues e supermercados, segundo Quadros. Os preços das carnes na ponta do consumidor foram reajustados em 3,99% ante uma alta de 1,53% em outubro. "É pouco provável que o ritmo de alta dos preços das carnes desacelere em pouco tempo", avalia Quadros.
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