Secretário da Receita pede demissão do cargo

Brasília 

– O secretário-adjunto da Receita Federal, Leonardo de Andrade Couto, pediu exoneração do cargo na noite de anteontem, depois de ter sido citado, numa reportagem publicada na última edição da revista Época, como um dos funcionários do Fisco que estariam interessados em desmoralizar o corregedor-geral do órgão, Moacir Leão.

“Estou saindo para preservar a Receita Federal, o Ministério da Fazenda e a Presidência da República”, disse Couto na manhã de ontem, quando explicou a decisão.

O pedido de exoneração foi feito por meio de uma carta entregue ao secretário da Receita, Jorge Rachid. Como não foi um pedido de demissão, Couto deverá ser encaminhado a outro setor do Fisco até que as investigações sejam concluídas. O assunto não foi levado diretamente ao ministro da Fazenda, Antônio Palocci. Para Couto, o afastamento facilitará o trabalho de investigação. “Tenho certeza que será mais cômodo para o secretário (Rachid) para apurar os fatos”, disse.

A saída do auditor é apenas mais um capítulo da disputa política que envolve diversos setores da Receita, e que teve o início a partir das investigações que o corregedor-geral da Receita, Moacir Leão, tem conduzido, desde fevereiro, sobre suspeita de enriquecimento ilícito de funcionários de alto escalão do Fisco.

Segundo Couto, a tentativa de ligar a conversa com o auditor Flávio Franco Corrêa com as investigações sobre a quadrilha de fiscais do Rio é “espúria”. “Estão falando de coisas distintas, que estão sendo colocadas no mesmo bojo”, afirmou.

Leão disse que não pode afirmar se os diálogos gravados pela Polícia Federal (PF) entre o secretário e Corrêa têm relação com a apuração sobre a quadrilha que atua na superintendência da Receita no Rio. Ele ressaltou ainda que as investigações envolvendo o secretário-adjunto não estão conectadas com o escândalo dos fiscais do Rio.

Disputa

A briga entre Leão e Couto começou em meados de julho, quando o secretário assumiu a supervisão da Coordenação de Pesquisa e Investigações (Copei) da Receita. Leão intimou Couto a depor, depois de ter sido informado que o secretário-adjunto havia determinado um bloqueio no repasse de informações à corregedoria. Couto nega o fato. Diante do impasse, Palocci nomeou uma comissão, formada por procuradores do ministério, para investigar se houve qualquer tipo de obstrução dos trabalhos da corregedoria.

O secretário exonerado se diz indignado com o fato de as ligações terem sido gravadas e repassadas à imprensa. “Qual é o motivo que levou à quebra de meu sigilo telefônico? Havendo ou não motivação, como uma gravação protegida por sigilo de investigação chega à imprensa?”, questionou.

No entender de Couto, algumas pessoas dentro da Receita podem estar interessadas em desestabilizar a cúpula do órgão. “Não vamos nomear para não cometermos injustiças, mas, talvez, existam pessoas e setores interessados em desestabilizar o trabalho dos outros”, argumentou. Leonardo disse não saber se Leão tem alguma conexão com o vazamento das gravações feitas pela PF. “Não sei. Não posso afirmar se ele está por trás ou não”, disse.

Couto trabalha na Receita Federal há 18 anos. Ele iniciou a carreira como auditor fiscal em Limeira, no interior de São Paulo. Em 1985, ele foi transferido para o Rio, onde trabalhou até o início deste ano. É dessa época que vem a amizade de Couto com Corrêa. Em fevereiro, Couto foi nomeado um dos quatro secretários-adjuntos da Receita.

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