A “chamada” pública que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu no secretário do Tesouro, Arno Augustin, engrossou um movimento de assessores e interlocutores do Palácio do Planalto para sinalizar ao mercado a entrada em operação neste ano do “Dilma 2, já!” – uma versão nova da política econômica.
O secretário foi alçado a bode expiatório do baixo crescimento econômico e da crise de confiança dos investidores em relação à economia. A ideia de sua saída, defendida nos bastidores, serviria para um choque de confiança junto ao empresariado, antecipando a indicação de um nome mais palatável ao setor privado em eventual segundo mandato de Dilma Rousseff.
Criticado pelas manobras contábeis realizadas nos últimos dias de 2012 para fechar as contas fiscais daquele ano, Augustin completa neste mês sete anos à frente da Secretaria do Tesouro Nacional. O recorde de permanência no cargo é criticado dentro e fora do governo.
Um ex-integrante da equipe econômica disse ao jornal O Estado de s. Paulo que há um desejo “crescente” no PT de substituir Augustin durante a campanha presidencial. A lógica é: se o secretário tem sido uma causa constante de ruído do governo junto ao setor privado e ao mercado financeiro, em especial, sua substituição sinalizaria imediatamente uma mudança de rumo, “ainda que leve”, como ponderou a fonte, que se estenderia ao longo dos próximos quatro anos.
Na sexta-feira, 6, o ex-presidente Lula teceu críticas públicas à política econômica do governo diante de uma plateia de empresários. Augustin, que estava presente, foi cobrado pelo petista por um esforço maior junto aos bancos públicos para estimular o crédito. O secretário do Tesouro foi equiparado a um tesoureiro de sindicato, que segura o dinheiro no cofre. Desde a afirmação de Lula, Arno não se pronunciou sobre o caso.
O desempenho da economia tem provocado críticas fortes e enfraquecido o governo às vésperas da eleição. Para o mercado financeiro não há dúvidas de que o secretário do Tesouro personifica a política econômica de Dilma. Ao longo dos oito anos de mandato de Lula, essa “personificação” foi dividida entre Antônio Palocci, Henrique Meirelles e Guido Mantega.
Soldado
No governo, no entanto, o quadro permanece inalterado. Augustin é considerado um dos mais leais “soldados” de Dilma. O termo militar, inclusive, tem se disseminado pela Esplanada dos Ministérios e o Palácio do Planalto para denominar o chefe do Tesouro.
Augustin e Dilma estiveram juntos nos anos 1990, quando ocuparam as secretarias da Fazenda e de Minas e Energia, respectivamente, durante o governo Olívio Dutra no Rio Grande do Sul. Já dentro da instituição que comanda há sete anos, o Tesouro, a situação é delicada. Depois de enfrentar uma rebelião do corpo técnico, revelada pelo jornal O Estado em dezembro, Augustin tem concentrado ainda mais poder: alguns subsecretários e coordenadores recuam no momento de assinar autorizações e decisões, com temor de serem responsabilizados por órgãos de controle.
Entre técnicos de carreira do Tesouro Augustin é visto como “o cara do PT”, e isso porque, diferentemente de seus antecessores, não tem base no mercado financeiro. Petista da corrente Democracia Socialista (DS), foi elevado ao núcleo duro do governo desde o início da gestão Dilma, em 2011.
Decisões
Augustin participou da formulação da controversa Medida Provisória (MP) 579. Ela antecipou a renovação das concessões de gerações e transmissão de energia elétrica, que reduziu a conta de luz dos consumidores no ano passado, mas ampliou em pelo menos R$ 20 bilhões a fatura para o contribuinte. Ele também participou de todas as reuniões técnicas com a Casa Civil para definição das concessões de infraestrutura ao setor privado.
Em sua defesa, fontes afirmam que Augustin foi “o operador dos programas federais”. Lula disse que o governo deveria combater o mau humor na economia, que cresce pouco há quatro anos, com mais recursos públicos irrigando o crédito às famílias e empresas. A tática foi empregada pelo próprio Lula para combater a crise internacional, entre 2008 e 2010. “Arno sempre autorizou os repasses bilionários ao BNDES, e as capitalizações da Caixa, então é injusto dizer que ele segura os recursos”, afirmou um economista do governo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.