A agonia do Rio São Francisco chegou a um nível inédito. Ontem, a Agência Nacional de Águas (ANA) deu autorização para que o volume de água liberado pelas comportas do reservatório de Sobradinho (BA), seja reduzido para 700 metros cúbicos por segundo. É uma calamidade.
Desde 1979, quando os militares fecharam a barragem no rio para formar o maior lago artificial do Brasil e um dos maiores do mundo, jamais Sobradinho enfrentou situação tão crítica. Municípios de Alagoas e Sergipe, incluindo a capital Aracaju, serão obrigados a fazer obras emergenciais para aprofundar a captação de água no curso do rio, abaixo do reservatório.
A informação foi confirmada por João Henrique de Araújo Franklin Neto, diretor de operações da Chesf, estatal do Grupo Eletrobrás responsável pela gestão de Sobradinho. “Não resta outra alternativa. Por conta dessa nova redução de vazão, teremos de fazer adequações nas captações de água nesses Estados para garantir o abastecimento da população”, diz.
Castigado por uma estiagem que já dura cinco anos, o reservatório de Sobradinho passará a contar com quase metade do mínimo de água que sua barragem deveria liberar, conforme critérios estabelecidos pelo Ibama e pela ANA. Em tempos normais de chuva, o reservatório de 4.214 quilômetros quadrados, equivalente a quase três vezes o de Itaipu, teria de verter o mínimo de 1.300 m³ de água por segundo. Em condição de tranquilidade, a liberação média teria de ser 2.060 m³ por segundo.
Os técnicos da Chesf e de órgãos de fiscalização acreditam que, com a nova redução, será possível atravessar o mês e novembro sem comprometer o abastecimento dos municípios que dependem do São Francisco. A navegação e a geração de energia, porém, devem passar por restrições. O período chuvoso na região começa em dezembro e segue até maio do ano.
“Certamente a navegação é impactada, além da geração de energia. O que estamos fazendo é preservando o uso mais nobre do rio, que é o abastecimento humano. O resto pode esperar reflexos, afinal não estamos em uma situação normal”, diz João Henrique.
Sobradinho está com 7% de sua capacidade total de 34,1 bilhões de m³ de água. Além de ser a principal caixa d’água do Nordeste, o reservatório responde por 58% da geração de energia consumida na região. Como a previsão é de que seu armazenamento caia para apenas 3%, Chesf e Cemig, donas das hidrelétricas que operam no curso do São Francisco, têm desligado as turbinas de suas usinas.
Geração. Em Sobradinho, a barragem tem seis turbinas de 175 megawatts (MW), com capacidade de gerar 1.050 MW. Hoje apenas duas estão em operação. Com a nova redução de vazão, a geração média de 170 MW deve cair para cerca de 140 MW. A hidrelétrica de Xingó, que também tem seis turbinas, deve ficar com apenas duas em operação. O mesmo cenário impacta a hidrelétrica de Três Marias, que tem quatro máquinas e deve operar só com duas. Apesar do cenário crítico, não há riscos de falta de energia na região, por conta da forte geração eólica do Nordeste e de sua conexão com o sistema interligado nacional, que permite exportar energia entre diferentes regiões do País.
“Vamos passar por uma nova redução de vazão e isso afeta a todos. Acredito que não será necessário baixar mais depois disso. Alguma chuva vai cair já em dezembro”, diz João Henrique.
Por meio de nota, o Ministério da Integração Nacional, responsável por programas de revitalização no São Francisco, informou que acompanha semanalmente a vazão do rio e a captação de água dos Estados que integram sua bacia.
Nas contas da Pasta, desde 2011 foram liberados R$ 30 bilhões para ações e obras relacionadas ao combate à seca. “Somente em ações e obras emergenciais, o Ministério da Integração destinou cerca de R$ 4,07 bilhões no mesmo período”, informou.”Acredito que não será necessário baixar mais depois disso. Alguma chuva vai cair já em dezembro.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.