A Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab) deve protocolar hoje na delegacia do Ministério da Agricultura, em Curitiba, relatório com todas as informações sobre as medidas de defesa sanitária tomadas no Paraná com relação à suspeita de febre aftosa. O relatório é uma exigência do Ministério da Agricultura para que seja revogada a Instrução Normativa 34, que considerou 36 municípios do Paraná como de risco sanitário, impedindo a saída de animais vivos, carne com osso e leite ?in natura.?
Em reunião na última terça-feira, em Brasília, o Ministério da Agricultura concordou em amenizar as restrições e interditar apenas propriedades localizadas em um raio de 10 quilômetros a partir das quatro áreas onde há suspeita de focos de aftosa.
Ontem, técnicos do Departamento de Fiscalização Sanitária Agropecuária (Defis) passaram o dia todo reunidos, elaborando o documento. ?Vamos protocolar no primeiro horário do dia e iremos passar a noite em cima disso (elaborando o documento) se for preciso?, afirmou o diretor do Defis, Felisberto Baptista.
O Paraná tem pressa na flexibilização das restrições. Desde o dia 1.º de novembro, o governo federal interditou 36 municípios do Paraná, próximos das áreas suspeitas. Desde então, eles pararam de comercializar produtos e subprodutos bovinos com outros municípios do Paraná e de outros estados. A suspeita de focos de febre aftosa em quatro propriedades – em Amaporã, Maringá, Grandes Rios e Loanda – foi anunciada pelo governo do Estado no dia 21 de outubro. Cerca de 600 amostras dos animais supostamente contaminados, além de órgãos de um boi sacrificado, foram enviados para o Laboratório Nacional Agropecuário (Lanagro), em Belém do Pará. Até agora, os resultados foram negativos para a doença, mas o Ministério da Agricultura considera os exames como inconclusivos.
Reunião do Conesa
Acontece hoje, a partir das 10h, reunião do Conselho Estadual de Sanidade Agropecuária (Conesa), no Palácio Iguaçu. Durante o encontro, serão apresentados resultados da auditoria feita por médicos-veterinários do Centro Pan-Americano de Febre Aftosa (Pan-Aftosa). Também serão apresentados todos os procedimentos adotados no Paraná desde o momento em que foi comunicado o foco de febre aftosa em Mato Grosso do Sul, além do relatório final dos representantes do Pan-Aftosa sobre as visitas realizadas nas propriedades. O documento foi apresentado pelo Comitê Veterinário Permanente (CVP) em Santa Cruz de La Sierra, Bolívia, entre os dias sete e oito de novembro.
De 27 de outubro e 04 de novembro integrantes do Pan-Aftosa percorreram a zona rural do Paraguai, Mato Grosso do Sul e regiões de fronteira do Paraná com a Argentina e o Paraguai, além da divisa do Estado com Santa Catarina. Devem participar da reunião o governador em exercício Orlando Pessuti, representantes das 11 entidades que compõem o Fundo de Desenvolvimento Agropecuário do Paraná (Fundepec-PR) e das 35 que formam o Conesa, além de deputados federais.
Para o assessor agropecuário da Federação da Agricultura no Estado do Paraná (Faep), Alexandre Jacewicz, que participou das reuniões em Santa Cruz de La Sierra, a preocupação maior das autoridades dos países do Mercosul é com relação à fronteira do Paraguai com o Brasil, mais precisamente com o Mato Grosso do Sul.
Para Jacewicz, a revogação da IN 34 deve minimizar os prejuízos da cadeia produtiva na região. ?Não digo flexibilizar, porque o termo flexibilização dá a idéia de que a legislação foi relegada a segundo plano. Prefiro dizer ?cumprir a legislação com abertura de novas fronteiras?, conclui.
Exportação de carne deve bater recorde neste ano
As exportações brasileiras de carne bovina devem alcançar o recorde de US$ 3 bilhões neste ano, segundo o presidente do Fórum Nacional Permanente de Pecuária de Corte da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), Antenor Nogueira. Em 2004, o Brasil exportou US$ 2,5 bilhões em carne.
Entre novembro de 2004 e o último mês de outubro, as vendas ao exterior atingiram US$ 3,01 bilhões, ou 28,8% a mais do que nos 12 meses anteriores (US$ 2,33 bilhões).
Antenor afirmou que os mais de 20 focos de febre aftosa encontrados no Mato Grosso do Sul em outubro, que levaram ao embargo total ou parcial da carne brasileira em 49 países, não vão comprometer as estimativas feitas pela CNA no início do ano.
Segundo ele, está em curso a reorganização das exportações. Os estados que estão impedidos de exportar estão direcionando sua produção de carne bovina para o mercado interno enquanto que os demais estados estão suprindo a demanda de exportação.
Ele sustenta a afirmação com o fato de que a Rússia comprou sozinha 36,4 mil toneladas de carne bovina, in natura, brasileira no mês passado, frente 17,5 mil toneladas em outubro de 2004.
Bloqueio
Integrantes do Movimento Sem Terra e agricultores bloquearam, ontem, duas pontes no Mato Grosso do Sul que dão acesso ao Paraná em protesto contra as barreiras para o combate da febre aftosa. Eles reclamam das dificuldades para trânsito no local. A manifestação, que foi pacífica, mas que provocou grandes filas de veículos, bloqueou uma das pontes do complexo Porto Camargo, na BR 487, em Icaraíma, e a ponte Ayrton Senna, na BR 272, em Guaíra, no Oeste do Paraná.