A partir da próxima quarta-feira (1.º de novembro), os criadores de bovinos e bubalinos do Paraná têm um compromisso: vacinar o seu rebanho contra a febre aftosa. A segunda etapa da campanha de vacinação – a primeira ocorreu em maio – segue até o dia 20. Quem não vacinar o rebanho ou não comprovar a vacinação até o dia 30 de novembro estará sujeito a multa de R$ 76,45 por animal.
?Nosso objetivo não é a autuação. O que nos interessa é o trabalho de parceria com o produtor?, apontou o secretário estadual de Agricultura e Abastecimento, Newton Pohl Ribas, ontem, durante entrevista coletiva. ?O criador paranaense tem uma visão clara sobre a importância da vacinação?, acrescentou.
Depois do susto e dos prejuízos acumulados nos últimos 12 meses – desde que o governo do Paraná anunciou a suspeita de focos da doença, confirmados depois pelo Ministério da Agricultura -, os produtores não vão medir esforços para vacinar seus animais. Ninguém quer ver o pesadelo da febre aftosa se repetir no estado.
?Depois de tudo o que ocorreu, temos que levar uma boa lição: que é necessário vacinar os rebanhos e que é preciso se preocupar com a fronteira?, comentou o secretário, referindo-se à fronteira do Paraná com o Paraguai. Segundo Pohl Ribas, a meta do governo do estado é vacinar 100% do rebanho. Hoje o Paraná é o sétimo produtor nacional de bovinos de corte, com 221,3 mil rebanhos, que somam 9,89 milhões de cabeças de gado.
Durante a primeira etapa, em maio, a vacinação atingiu 97,6% do rebanho, espontaneamente, entre os dias 1.º e 20. ?É um dos melhores índices nacionais?, apontou o secretário. Segundo ele, a vacinação só não alcançou 100% dos animais por conta dos pequenos criatórios de quatro ou cinco animais que vivem nas áreas metropolitanas. ?Fazemos um trabalho com as secretarias municipais, prefeituras, para que o veterinário faça a vacinação assistida (ou seja, com a presença de um técnico da Seab)?, explicou. Bovinos que vivem em comunidades indígenas, assentamentos e áreas de litígio, segundo o secretário, também têm vacinação assistida. O lançamento oficial da campanha de vacinação será feito na Fazenda Modelo do Iapar (Instituto Agronômico do Paraná), em Ponta Grossa, no próximo dia 1.º.
Fronteira
Sobre a área de fronteira, Ribas afirmou que o Paraná ?faz a sua lição de casa exemplarmente?. Ele lembrou que o estado tem 178 quilômetros de fronteira com o Paraguai e 203 quilômetros com a Argentina. No caso do Mato Grosso do Sul, são 800 quilômetros de ?divisa seca? com o Paraguai. ?O Paraná, de certa forma, está protegido pelas barreiras geográficas?, afirmou, referindo-se ao Rio Paraná.
Ribas lembrou que o governo do estado enviou ao Ministério da Agricultura, há dois anos e meio, uma proposta de trabalho efetivo na fronteira, com o cadastro das propriedades, rastreamento dos animais – com brincos invioláveis e código de barras -, além de vacinação assistida. ?O ministro Guedes (Luís Carlos Guedes Pinto, da Agricultura) está fazendo reuniões. Alguma coisa está andando neste sentido?, afirmou. A proposta da Seab prevê ainda a realização de trabalho compartilhado direto, em que técnicos da defesa agropecuária de todo o estado se dirigiriam para a área de fronteira durante uma semana e depois voltariam para seus postos.
Circuito
Sobre a retomada das exportações, Pohl Ribas lembrou que o Paraná faz parte do Circuito Pecuário que compreende estados como o Mato Grosso do Sul e São Paulo. Na semana passada, o ministro Guedes se comprometeu a enviar à Organização Internacional de Epizootias (OIE), daqui a duas semanas, documento em que o ministério reconhece que o Paraná é livre de aftosa. ?Nosso relatório já está pronto, agora precisamos que o relatório do Mato Grosso do Sul e o de São Paulo também fiquem prontos?, arrematou o secretário.
Retirada de embargos amplia exportações
O embargo do governo russo à importação de carne bovina brasileira, em decorrência da suspeita de febre aftosa no rebanho, vem sendo retirado aos poucos. Desde agosto, o embargo está suspenso para Mato Grosso. Agora, em outubro, o governo russo também suspendeu o embargo para os estados de Goiás e São Paulo. Com isso, o aumento do embarque de carne bovina congelada no Terminal Portuário da Ponta do Félix, em Antonina (PR), deve chegar a mais de 88% neste mês.
Segundo informou Leocádio Cunha, assessor comercial da Ponta do Félix, de fevereiro a setembro deste ano, o terminal embarcou em média 9 mil toneladas de carne bovina congelada por mês. Em outubro, com o fim do embargo a São Paulo e Goiás, principais estados produtores de carne para exportação, o volume de embarques em Antonina deve chegar a 17 mil toneladas, podendo atingir até 20 mil toneladas.
Entre os terminais portuários frigorificados, o da Ponta do Félix é considerado o melhor e mais moderno da América Latina. Ele possui duas câmaras frigoríficas, uma delas totalmente automatizada. Juntas elas somam capacidade para armazenar 13 mil toneladas de congelados. Agora, com o fim do embargo russo a São Paulo e Goiás, o volume de embarque de carne congelada no terminal deve ser fortemente ampliado.
Apesar de São Paulo garantir não ter registros da doença há 10 anos, o estado foi penalizado por ser corredor de exportação para 60% das vendas externas brasileiras do setor. A Rússia é o maior comprador individual da carne bovina brasileira, com 22,7% de participação em 2005, chegando a US$ 564 milhões.