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Se câmbio afetar expectativa de inflação, atuação será diferente, diz Campos Neto

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reiterou nesta terça-feira, 19, que a a desvalorização do real frente ao dólar não tem tido impacto sobre a inflação e que veio acompanhada pela melhora da percepção de risco por parte dos investidores. “Não houve piora nas expectativas de inflação, que é o que nos importa. Mas se a desvalorização cambial começar a afetar expectativa de inflação, teremos que fazer atuação diferente”, alertou.

Ele disse que parte da movimentação do câmbio tem se dado por efeito dos juros longos, com a substituição por parte das empresas de dívidas externas por dívidas internas.

“O câmbio é sempre notícia quando tem movimento. O que tem acontecido é um movimento de pré-pagamento de dívidas de empresas fora do País, como a Petrobras”, afirmou, em audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.

O presidente do BC citou ainda o projeto de hedge cambial para projetos de longo prazo, permitindo que ganhos e perdas se compensem no pagamento de impostos.

Compulsórios

Campos Neto voltou a explicar que o volume de depósitos compulsórios no Brasil é alto porque o sistema de assistência de liquidez no País ainda é muito limitado e não funciona. “Existe um estigma no sistema financeiro de que banco que pega dinheiro do BC está com problema. Queremos fazer um sistema no qual podemos usar dívida privada para melhorar a eficiência e a liquidez do setor. Aí poderemos reduzir bastante o volume de compulsórios”, repetiu.

Ele disse ainda que o crescimento da economia e, consequentemente, da demanda por crédito também pode levar o BC a reduzir a exigência de compulsórios.

Fatores geopolíticos

O presidente do Banco Central voltou a dizer que o crescimento global é o mais baixo dos últimos anos, e avaliou que a menor expansão do PIB brasileiro também se dá por questões geopolíticas. “O delta do crescimento hoje é quase inteiro dos países asiáticos. A Europa cresce menos que tem dúvidas sobre a instrumentalização para voltar a crescer mais”, afirmou. “Na América Latina, a Argentina puxou crescimento para baixo neste ano, não esse impacto não deve ser tão negativo em 2020”, completou.

Ele destacou ainda que é de conhecimento geral que inflação no Brasil está bastante baixa e estável. “Uma das influências para a inflação baixa é global, mas o Brasil está se reinventando com capital privado. O mercado entende que governo tem projeto fiscal sólido”, acrescentou.

Campos Neto citou os cortes recentes na taxa básica Selic – atualmente em 5,0% ao ano -, mas destacou que o mais relevante para o processo de virada da economia brasileira é a queda da taxa longa de juros.

“É importante ter a taxa curta ancorada, mas também taxa longa em níveis baixos. Uma taxa longa menor ajuda o financiamento de infraestrutura. Grande parte da economia roda na Selic, mas projetos importantes giram em taxas maiores”, explicou o presidente do BC.

Por isso, continuou ele, o País está conseguindo crescer com menos dinheiro público e maior possibilidade de financiamento pelo setor privado. “O dinheiro público para crescer bateu no muro em algum momento. O crescimento público está pior que imaginado, mas crescimento privado está maior que imaginado”, completou.

Campos Neto chegou a iniciar sua exposição na CAE na manhã desta terça-feira com a presença de apenas um senador na plateia – o líder do governo na Casa, Fernando Bezerra (MDB-PE). Em seguida chegaram os senadores Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Eduardo Braga (MDB-AM).

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