O economista e ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central (BC), Alexandre Schwartsman avalia que o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) não é mais um ótimo indicador antecedente do crescimento do País, medido a cada trimestre pelo IBGE. “O IBC-BR até o terceiro trimestre era um excelente previsor do PIB. Mas essa relação quebrou. Não sei por quê. Desconfio mais que foi um acidente”, disse. Ele acredita que no quarto trimestre, o Brasil repetiu o baixo avanço de 0,6% apurado de julho e setembro, na margem, o que deve ter levado o PIB a uma expansão de 0,9% em 2012. Para este ano, ele espera uma expansão entre 2,5% e 3%, com a inflação ao redor de 6%.
Crítico da atual diretoria do BC, Schwartsman concorda com os dirigentes da instituição em um ponto: se o País não cresce mais, isso se deve a restrições da oferta, mais do que pelo ritmo de expansão da demanda. “São limitações da oferta que se expressam pela taxa de desemprego. Não é por acaso que temos uma situação na qual o PIB cresce menos de 1% e o emprego cresce 2%. Tem alguma coisa esquisita aí”, disse.
Suas suspeitam recaem em alguns fatores, como a baixa expansão da produtividade, que está entre 1% e 1,5% há vários anos. Um outro elemento, segundo ele, é que o crescimento do emprego ocorre num ritmo superior ao da população em idade ativa. “Talvez tenhamos limitações no mercado de trabalho”, destacou, ressaltando que isso é identificado na falta de mão de obra qualificada em diversos segmentos produtivos do País.
Na avaliação de Schwartsman, a escassez de capital humano não permite mais um crescimento do PIB entre 4% e 4,5%, como ocorreu em média entre 2003 e 2010. Para ele, aquele patamar de avanço da economia foi causado em grande medida porque havia uma quantidade muito grande de cidadãos desempregados do que hoje. “Tudo isso começa a pesar”, disse, ressaltando que atualmente o PIB potencial do Brasil não supera 3%.
Mantega
O ex-diretor do BC foi irônico ao comentar as recentes declarações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, realizadas em Moscou, nas quais os juros são os principais instrumentos para combater a inflação. “Seria surpreendente que um economista treinado falasse de política monetária independente ao mesmo tempo que fixa a taxa de cambio. Mas nesse caso não fiquei surpreso”, afirmou.
Segundo ele, é “inconsistente” a política de câmbio gerenciada diariamente pelo governo com a administração da taxa de juros pelo BC. “Não é a toa que temos inflação alta”, destacou. “Depreciamos artificialmente o câmbio e o (Brasil) importou todo o impacto inflacionário com a alta de commodities”, disse.
Alexandre Schwartsman disse que em algum momento o BC vai ter que subir os juros para conter a alta da inflação. “Em algum momento vai ter que subir. A questão é saber se vai subir agora em abril ou no ano que vem”, apontou, ressaltando que os juros poderão até aumentar no final de 2013. Mas ressalta que no seu cenário principal a taxa ficará estável até dezembro.
Autonomia questionável
Schwartsman fez comentários contundentes sobre a liberdade do Banco Central na condução da política monetária. “Chegamos a um ponto em que a ordem do governo é para agir, para que o Banco Central pareça autônomo. Isso me parece o oposto do que se quer fazer”, disse. “O governo está mandando o Banco Central ser autônomo. Tem alguma coisa errada nisso. Parece declaração do (ex-presidente João) Figueiredo. Quem for contra a abertura (política) eu prendo e arrebento. A lógica é mesma”, disse.