Embora seja comum a percepção de que a satisfação com a vida, no geral, é maior nos países com maiores níveis de renda per capita, as pessoas tendem a se sentir menos satisfeitas em países que tiveram taxa de crescimento mais alta nos anos recentes do que em países que cresceram menos, constata o estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). “A insatisfação nos países com rápido crescimento é resultado de aumento acelerado nas expectativas relacionadas a consumo material e competição por status econômico e social”, informa o relatório. O BID classifica esta situação como “paradoxo do crescimento infeliz”.
Este fato, acrescenta, é uma ameaça contra políticas que promovem eficiência, pois algumas medidas para aliviar temporariamente o descontentamento podem ser eficazes a este respeito, mas à custa de companhias ou indivíduos bem-sucedidos economicamente que servem de referência para grupos descontentes. No entanto, o estudo não leva em conta se o descontentamento estaria ligado ao sentimento de inveja em relação aos considerados bem-sucedidos, por exemplo.
Por conta da constatação deste paradoxo, o BID estima que “uma política focada exclusivamente no crescimento tem poucas possibilidades de ser politicamente sustentável”. Escala apresentada no estudo revela que o maior nível de satisfação está ligado à população de países com crescimento médio anual inferior a 2%. Em oposição, o menor nível de satisfação está relacionado à população de países que crescem anualmente mais que 7%.
Outro paradoxo constatado é o da “aspiração”. Os mais pobres e com menor nível educacional têm uma opinião sobre políticas sociais mais positiva do que os mais ricos ou com melhor nível educacional dentro de um mesmo país. “A falta de aspiração enfraquece a demanda do pobre por melhor educação, saúde e proteção social”, informa o estudo.
Sociedades com mais educação e mais participativas politicamente têm mais chances de quebrar este paradoxo. “Cidadãos descontentes, mas ativos politicamente, são uma indicação melhor de progresso social do que uma sociedade passiva e tolerante”, avalia o BID.